Dá para achar um vinho bom no Brasil gastando apenas 50 reais?
Isso é possível, sim, garante um novo guia que lista 554 opções com a melhor relação entre o custo e o benefício
Não faltam promoções de vinhos nas gôndolas dos supermercados e nos sites de e-commerce, algumas delas oferecendo garrafas de rótulos importados a preços de 30 reais. Apesar de tentadoras, essas ofertas deixam sempre um sabor de dúvida no consumidor: a economia vai render uma grande dor de cabeça no dia seguinte? Preço amigável e boa qualidade nem sempre são qualidades facilmente harmonizadas. O maior desafio é garimpar rótulos com uma excelente relação entre custo e benefício. Dentro dessa equação, qual seria o valor mínimo para se desembolsar no Brasil por um rótulo honesto?
Pois foi justamente a essa tarefa que se dedicou o time de especialistas formado pelos jornalistas Suzana Barelli, Marcel Miwa, Beto Gerosa e Ricardo César, que lançou recentemente o Guia de Vinhos 2024/2025. Eles varreram o mercado em busca das opções com preços de até 300 reais. Após a degustação às cegas dos produtos, estabeleceram notas de até 100 pontos a cada um deles. Rótulos com avaliação menor que 85 acabaram sendo descartados. A seleção final ficou com 554 amostras da bebida de catorze países.
Na publicação, elas foram divididas por três faixas de preços: até 100, de 101 a 200 e de 201 a 300 reais. Para facilitar a busca pelos produtos que mais se destacaram, cada uma dessas três categorias tem uma lista dos “Dez Mais”. É uma solução fácil, direta e que funciona como um GPS na hora da compra. Nos campeões da categoria “até 100 reais”, a indicação mais barata é a do argentino Dante Robino Novecento Malbec. Ele custa 50 reais e recebeu 92 pontos na avaliação. Ou seja, pesquisando muito, é possível, sim, achar bons produtos com preços de até 100 reais. “Não adianta o vinho estar apenas correto, nós fomos atrás de identificar quais as qualidades ele tinha para valer os 100 reais, por exemplo”, explicou Suzana Barelli à coluna AL VINO.
Outra boa surpresa da publicação foi a presença expressiva dos brasileiros na lista final: foram 128 rótulos nacionais avaliados e ranqueados. Também me chamou atenção o fato de que, no lugar das harmonizações, há algumas sugestões de momentos de consumo, por exemplo: piquenique, piscina, jantar ou bate-papo no final da tarde. O argentino Dante Robino Novecento Malbec, por exemplo, é indicado para acompanhar uma pizza de calabresa. Acho isso muito mais eficaz do que muitos termos técnicos. Com base nessa dica, certamente o consumidor não levará um vinho que é sugerido tomar na piscina para um jantar numa noite fria em frente a lareira. Tenho certeza de que ele intuirá para que a situação invernal pede um vinho mais potente e encorpado.
Para você que vive comprando sempre a mesma uva ou rótulo, sob a justificativa de que é um amante daquele estilo, pare de dar desculpas e aventure-se com segurança. A melhor maneira de ampliar o conhecimento sobre vinho é também a mais deliciosa: degustando e de maneira variada. O guia, certamente, será seu fiel companheiro nesta jornada. Além das 554 razões para aproveitar o livro, Suzana deixa aqui mais uma reflexão: “Se você busca um vinho até R$ 100, eu não iria escolher algo da Nova Zelândia, Califórnia ou mesmo França, pensem no custo que esse vinho teve para chegar aqui”. No mais, esses costumam ser vinhos mais dispendiosos. Portugal tem grande interesse comercial no Brasil, por isso costuma ter bons valores para ótimos vinhos. Enquanto isso, nossos hermanos pagam menos impostos e o Brasil tem se superado dia após dia e possui excelentes produtos.
Vale lembrar que harmonizar preço e qualidade é fundamental para o corpo e o bolso. Segundo o cardiologista Sergio Timerman, um dos mais renomados profissionais dessa área no país, o que faz mal à saúde é vinho ruim. Isso se complementa bem com uma nota citada na apresentação do Guia: se há algo que não aceita desaforo é o bolso.
Ainda em tempo: a edição foi delicadamente dedicada ao Ricardo Castilho (1964-2024), jornalista que muito contribuiu para a cultura de vinho no Brasil. A publicação pode ser comprada pela Amazon.
A seguir, confira a lista dos Dez Mais da categoria “até R$ 100”:
- 93 pontos – Quinta dos Roques São Tinto – Quinta do Correio 2020 (Portugal) – R$ 100
- 92 pontos – Dante Robino Novecento Malbec (Argentina) – R$ 50
- 92 pontos – Enrique Foster Ique Cabernet Sauvignon 2021 (Argentina) – R$ 59
- 92 pontos – Los Haroldos 4 Estaciones Malbec Autumn 2020 (Argentina) – R$ 76
- 92 pontos – Paulo Laurean Clássico Tinto 2021 (Portugal) – R$ 69
- 91 pontos – Casillero del Diablo Legendary Collection Manchester Ttd Cabernet Sauvignon 2019 (Chile) – R$ 65
- 91 pontos – Pizzato Fausto Tannat (Brasil) – R$ 80
- 91 pontos – Dante Robino Malbec 2022 (Argentina) R$ 90
- 91 pontos – Tons de Dourum Tinto 2019 (Portugal) – R$ 88
- 91 pontos – Horácio Simões Tinto 2021 (Portugal) – R$ 95