Eles querem “entregar ao governo chinês as informações sobre todo mundo que mora no Brasil, inclusive refugiados chineses que se encontram por aí”. Acusou (em rompante de lucidez) Olavo de Carvalho, aquele que indicou dois ministros para o governo Bolsonaro, em vídeo no YouTube. “Se eu fosse guru do Bolsonaro, certas coisas não estariam acontecendo”. Ainda complementou.
Qual foi o motivo da rixa? A ida de um grupo de eleitos do PSL, o partido do presidente, à China comunista. Os parlamentares, junto a outros aliados, foram lá buscar novidades chinesas para o Brasil. A que deu nos nervos de Olavo: a tecnologia de reconhecimento facial utilizada pelo Partido Comunista.
A potência asiática é realmente pioneira no assunto. Desde 2015 foram instaladas em torno de 170 milhões de câmeras dotadas de reconhecimento facial por diversas vias e edifícios públicos. Com um banco de dados de 1,3 bilhão de fotos, o governo alega conseguir identificar 700 milhões de cidadãos, com precisão de uns 80% de acerto. Segundo a propaganda comunista, já foram presos uma penca de criminosos dessa forma. Será mesmo?
Os aliados de Jair Bolsonaro logo se empolgaram na viagem e abordaram uma das empresas responsáveis por tal façanha, a Huawei. O intuito seria instalar o mesmíssimo avanço em aeroportos e outros locais públicos brasileiros.
Foi com tudo isso que Olavo se irritou. E com total base, pelos seguintes motivos:
– as câmeras chinesas não são só usadas para pegar assassinos e afins; elas são empregadas para pegar dissidentes, opositores do regime nada democrático de Xi Jinping;
– a China realmente tem o maior sistema de espionagem e de coleta de informações digitais do planeta e facilmente poderia usá-lo para capturar dados de brasileiros e estrangeiros que passassem pelo nosso país, incluindo aí, como bem apontou Olavo, refugiados políticos;
– em nações como EUA e Canadá, a Huawei já é acusada de espionagem à favor do Partido Comunista.
E não para aí. Além de tudo, o sistema chinês nem é tão efetivo quando diz ser.
Com um banco de dados tão genérico e amplo quanto o que possui, a mesmíssima tecnologia foi testada também, e por exemplo, na Inglaterra, de forma independente e sem a mão dos comunistas chineses no meio. Lá se aferiu que a precisão é inferior a 10%. Ou seja, a cada 10 rostos analisados, apenas 1 é devidamente reconhecido.
Nos Estados Unidos, a prova foi executada de maneira criativa. Submeteu-se à inovação a análise das faces de 535 senadores e deputados federais. E não é que o sistema confundiu 28 dos legisladores com criminosos procurados pelo FBI?
Então, por que a China usa em seu território uma tecnologia falha? Além de servir de propaganda para o governo, a desconfiança é a de que o reconhecimento facial nas ruas não seja usado para flagrar bandidos genéricos – assaltantes e afins – no meio da multidão. Ou ao menos esse não seria o principal intuito.
Se a missão da tecnologia for, por outro lado, buscar por indivíduos bem específicos, ela é seria extremamente eficaz. Por exemplo, se uma autoridade chinesa quiser prender um artista reconhecido que se pronuncia contra o Partido Comunista.
Nesse aspecto, as câmeras chinesas não estão lá, portanto, para buscar criminosos do tipo que todos têm como criminosos. Mas justamente para capturar perseguidos políticos. Numa tática que poderia ser replicada nos aeroportos brasileiros.
Em outras palavras, o PSL, partido de Bolsonaro, pode estar abrindo as portas do Brasil para a espionagem comunista made in China.
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