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Crônicas do mundo tecnológico e ultraconectado de hoje. Por Filipe Vilicic, autor de 'O Clube dos Youtubers' e de 'O Clique de 1 Bilhão de Dólares'.
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A teoria por trás dos ataques grosseiros a Greta Thunberg

Série de bolsonaristas, incluindo o filho candidato a embaixador, somados aos que descreem da ciência, criaram tempestades contra a ambientalista de 16 anos

Por Filipe Vilicic 3 out 2019, 16h30
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  • “Ela está precisando de sexo. Ela é uma histérica mal-amada”, vociferou, em comentário que mescla obtusidade, misoginia e comportamento obscurantista (e ainda vale recordar: Greta tem somente 16 anos de idade, e é autista), o radialista Gustavo Negreiros, ao atacar o discurso de Greta Thunberg, a adolescente sueca, de 16 anos, que, com suas falas, vem desafiando líderes globais e empresários que não parecem ver problema em devastar o meio ambiente – contanto que seus bolsos continuem cheios de verdinhas. Se ainda não conhece Greta, líder de protestos globais em torno do tema, não me delongarei em apresentações desta, declarada candidata ao Nobel da Paz: para saber mais, confira entrevista que a ambientalista concedeu a VEJA, nas Páginas Amarelas.

    Muitos e muitos extremistas, na maioria bolsonaristas – mas também há aqueles que simplesmente preferem dormir na própria ignorância, negando conquistas da ciência –, juntaram-se ao coro de ódio a Greta Thunberg. Eduardo Bolsonaro, aquele filho do presidente Jair, para o qual ele não vê problema em dar “filé mignon” (no caso, a embaixada brasileira nos EUA; mesmo que o rebento não tenha experiência em diplomacia, e só saiba fritar hambúrguer e falar um inglês cambaleante), não ficou de fora. Em praxe de seu clã, compartilhou uma fake news no Twitter, com uma foto manipulada da garota, como se ela estivesse exibindo seus privilégios suecos, esbaldando-se em boa comida, enquanto crianças pobres a olhavam pela janela. Criticado, Eduardo deu de ombros, achando que é algo como normal um político, de tremendo alcance midiático, sair mentindo sobre rivais no Twitter, usando como base imagens manipuladas no Photoshop.

    Rodrigo Constantino, um dos mais alucinados teóricos da conspiração deste país – daqueles que soltam bravatas como “a ameaça comunista” quer dominar o mundo; como se ainda vivêssemos em 1955 e ele fosse daqueles caras que achou uma brilhante ideia invadir o Vietnã, ou espalhar governos torturadores de extrema direta por aí com a desculpa de “os comunistas jantam criancinhas” –, talvez tenha sido o campeão das grosserias sem fundamento que foram direcionadas a Greta. “Pobre menina que deveria estar estudando para ser alguém na vida”, disse Constantino sobre a garota que, aos 16 anos de idade, é candidata ao Nobel da Paz. E ainda complementou: “retardada”; “agora é uma menina, que ainda tem lá a ‘síndrome do autismo’, foi acusada disso” (sim, ele disse que Greta foi “acusada” de ter autismo?!?!). Por sorte, enquanto Constantino babava, a jornalista Vera Magalhães, na mesma rádio, tentava mostrar o ridículo de seu interlocutor – da mesma forma adotada pela companheira de rádio de Gustavo Negreiros (o do início deste texto).

    O que há em comum a todos esses? Vários pontos, e enumero dois deles, os principais:

    1. Não há apresentação de qualquer argumento lógico, racional, científico, para rebater Greta;

    2. Os ataques são gratuitos, insultuosos, e se baseiam em preconceitos como “ela vem de um país rico”, “ela é mulher” (no caso de Negreiros, em especial), “ela tem autismo e por isso…” (desculpe, mas falta fôlego para tentar complementar as baixarias).

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    Agora, o que há por trás disso tudo? Para sair dos debates polarizados, sem embasamento, que se espalham pelas redes, vale recorrer à ciência.

    Teóricos costumam ver a internet pela tecnofilia (em entusiasmo) ou pela tecnofobia (o medo da destruição social causada por Facebook, Twitter e companhia). A realidade é mais complexa e, por isso, navega em um meio-termo. No entanto, é difícil não pensar em futuros apocalípticos, de devastação do conhecimento e ascensão de obscurantismo e autoritarismo (como ocorreu em outros momentos trágicos da história), quando se ouve o que falam Eduardo Bolsonaro, Negreiros, Constantino – e só para citar, claro, os exemplos citados neste texto, pois existem muitos e muitos outros.

    Abusadas por essas figuras, as redes sociais têm colocado em xeque o progresso guiado pelo iluminismo, pelo conhecimento, pelo liberalismo (econômico, comportamental e social), pela democracia representativa. Como demonstrado em reportagem recente de capa de VEJA, de coautoria deste que vos escreve.

    O que Eduardo Bolsonaro, Negreiros, Constantino e outros fizeram, nos ataques a Greta foi uma “tempestade de merda”, do termo em inglês Shitstorm (sobre o qual já falei em texto anterior deste blog). Na tática da tempestade de merda, pouco importa o embasamento da argumentação, a lógica do discurso. Só vale mesmo eleger alvos para ataques em massa, espalhando mentiras e preconceitos no processo, manipulando o lado mais primário das emoções humanas em direção a um rival específico – no caso, Greta.

    Nisso, os maestros das tempestades de merda instigam o que se chama, teoricamente, de “enxame digital”. Seus seguidores agem como abelhas atrás de uma rainha enlouquecida, seguindo mandos, para onde for (mesmo se for para o abismo).

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    A estratégia tem se disseminado entre diversos extremistas, de quais lados forem do espectro político. No Brasil, todavia, é exibida principalmente, e com especial domínio, pela extrema direita representada por Eduardo Bolsonaro, seu pai Jair, outros bolsonaristas de carteirinha, além de figuras midiáticas como Constantino e o guru dessa turma toda, Olavo de Carvalho.

    A intenção da tempestade de merda é evidente. Por carecerem de bases acadêmicas, de dados, de qualquer prova concreta, de habilidades reais de argumentação racional, e por não conseguirem representar – por meio da ideia de democracia representativa – grupos sociais minimamente coerentes e de intenções claras, esses capitães dos enxames digitais apelam à força do panóptico estruturado por Twitter, YouTube e afins com uma meta das mais simples de explicar: para controlar uma massa raivosa, acéfala no sentido interpretativo.

    Também deste blog:
    A incoerência da guerra de Eduardo Bolsonaro contra Instagram e Facebook
    Por que pessoas acreditam em terraplanismo, antivacina etc.?
    Felipe Neto fala sobre sua ação contra censura na Bienal (exclusivo)
    O YouTube construiu a atual extrema direita brasileira?

    Isso como forma de projeto de tomada de poder. Para assim estabelecer falsas e hipócritas crenças, em busca tão-somente de criar um regime autoritário no qual suas ideias se tornam aceitas mesmo quando não há explicação racional para as mesmas, e assim… conseguem fazer o que quiserem, em despeito ao progresso impulsionado pela evolução de sistemas sociais como a democracia, o liberalismo, e a própria ideia de Constituição.

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