Tornou-se lugar-comum atribuir aos brancos pobres dos Estados Unidos a “culpa” pelo fenômeno Trump. Não fosse o apoio dessa fatia da população americana — é o que se lê em toda parte — o bilionário Donald Trump não teria sido escolhido o candidato do Partido Republicano à presidência do país e não estaria envergonhando a política nacional com declarações ultrajantes sobre mulheres e imigrantes e propostas populistas. Não é nada disso.
Um artigo escrito pela jornalista americana Sarah Smarsh para o jornal britânico The Guardian desmonta o mito do “trumpista branco da classe trabalhadora“. Ela começa citando uma pesquisa Gallup, realizada no mês passado (setembro de 2016) com base nas respostas de 87.000 entrevistados, que mostra que aqueles que gostam de Trump não estão piores em termos econômicos nem estão ameaçados de perder o emprego para imigrantes do que aqueles que não gostam dele. Os apoiadores de Trump tampouco têm uma renda familiar ou desfrutam de níveis de emprego piores do que a média nacional. Um dos pesquisadores comentou, a respeito dos resultados obtidos nas entrevistas, que “aparentemente não há nenhuma ligação entre a exposição à concorrência comercial (internacional) e o apoio a políticas nacionalistas nos EUA, como as que são ressaltadas pela campanha de Trump.”
Outra pesquisa citada por Smarsh, feita durante as primárias, indicava que a renda familiar dos apoiadores de Trump era na verdade mais alta do que a dos fãs de Hillary Clinton (sua adversária do Partido Democrata). Além disso, 44% dos eleitores de Trump nas primárias tinham diploma universitário, contra 29% da média nacional e 33% da média da população branca. Ou seja, os números indicam que os eleitores de Trump são, na realidade, mais ricos e mais escolarizados do que média nacional. Ele recebe proporcionalmente mais votos dos brancos? Sim, mas não de brancos pobres, e sim de brancos bem de vida.
Oriunda de uma família de brancos pobres do Kansas, Sarah Smarsh leva para o lado pessoal a insistência de boa parte da imprensa americana em retratar o típico eleitor de Trump como um homem branco de baixa qualificação profissional que vive em algum lugar do meio-oeste dos EUA. Ela atribui a incapacidade de colocar em dúvida esse estereótipo, apesar das evidências estatísticas, ao fato de que seria muito incômodo para os jornalistas da imprensa liberal americana olhar para o próprio umbigo na tentativa de entender quem são os verdadeiros eleitores do “xenófobo e misógino” Donald Trump. Afinal, se fizessem isso, acabariam por descobrir que o típico eleitor de Trump é muito parecido com o típico jornalista americano: homem branco de classe média.
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