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‘Narcos’ do México: como a agência antidrogas dos EUA ajudou na ascensão de El Chapo

Uma reportagem da atual edição (Jan/Fev de 2016) da revista americana The Atlantic traz um relato que lembra o roteiro da série Narcos (do Netflix). O texto descreve como uma dupla de agentes da DEA, a agência antidrogas dos Estados Unidos, caça os chefões de um cartel latino-americano. A diferença é que os fatos narrados pelo repórter David Epstein se desenrolam […]

Por Diogo Schelp Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 jul 2020, 23h43 - Publicado em 14 jan 2016, 09h21
MEXICO-CRIME-GUZMAN

Joaquín ‘El Chapo’ Guzmán é levado para um helicóptero após sua captura, no dia 8 de janeiro, no estado de Sinaloa (AFP/Alfredo Estrella)

Uma reportagem da atual edição (Jan/Fev de 2016) da revista americana The Atlantic traz um relato que lembra o roteiro da série Narcos (do Netflix). O texto descreve como uma dupla de agentes da DEA, a agência antidrogas dos Estados Unidos, caça os chefões de um cartel latino-americano. A diferença é que os fatos narrados pelo repórter David Epstein se desenrolam no México, não na Colômbia, e um dos personagens é atualíssimo: ninguém menos que Joaquín “El Chapo” Guzmán, o chefão do Cartel de Sinaloa que foi capturado na semana passada seis meses depois de escapar de um presídio de segurança máxima por um elaborado túnel de 1,5 quilômetro de extensão. Como foi amplamente divulgado, a localização de Guzmán foi descoberta pelas autoridades mexicanas por causa da entrevista que ele concedeu ao ator americano Sean Penn e que foi intermediada por Kate del Castillo, uma atriz mexicana com conexões suspeitas com o narcotráfico em seu país. Menos conhecida é a história de como o Cartel de Sinaloa, comandado por El Chapo, tornou-se o mais poderoso do México.

O texto de Epstein, cujo título é “Como agentes do DEA desmantelaram o cartel mais cruel do México… e como isso ajudou na ascensão do império criminal de Chapo Guzmán”, traz parte da resposta. A reportagem tem como espinha dorsal o empenho de dois agentes americanos, Dave Herrod e Jack Robertson, para prender os irmãos que comandavam o Cartel de Tijuana, também conhecido como Cartel dos Arellano Félix (CAF). A descrição das atrocidades e dos crimes cometidos pelos irmãos Arellano não perde para nenhuma daquelas cenas aterradoras retratadas em Narcos. Eles tinham o hábito, por exemplo, de enfiar suas vítimas de cabeça para baixo em um barril cheio de ácido e deixá-las lá por 24 horas, até que só sobrassem os dentes. Capturado pelo CAF, Jose Patino Moreno, um dos raros policiais incorruptíveis do México, teve a cabeça esmagada em uma prensa e os ossos esmigalhados a golpes de tacos de beisebol.

A exemplo do que aconteceu com os carteis de Medellín, de Pablo Escobar, e de Cali, os traficantes de Tijuana e de Sinaloa cooperavam entre si até que a convivência pacífica foi rompida pelo capricho de um de seus chefões. Em 1989, Ramón, o mais sanguinário dos Arellano, matou um dos maiores amigos de El Chapo, uma vingança pelo fato de o sujeito ter assediado uma de suas irmãs anos antes. Em seguida, o CAF declarou que teria monopólio na distribuição de drogas em um bom pedaço da Califórnia, o que em nada agradou aos chefões de Sinaloa. Em 1992, El Chapo enviou 40 matadores armados com fuzis AK-47 para dar cabo de Ramón e Javier Arellano em uma discoteca em Purto Vallarta. Os dois irmãos conseguiram escapar de maneira espetacular.

Em resposta, um segurança de Ramón criou um esquadrão de 30 bandidos e providenciou um terrorista do Oriente Médio para treiná-los com o intuito de matar El Chapo. Em 1993, parte dessa gangue foi enviada para emboscar o rival em Guadalajara. Deu tudo errado. El Chapo escapou e o tiroteio deixou cinco cidadãos inocentes mortos no aeroporto de Guadalajara, entre eles o cardeal Juan Jesús Posadas Ocampo, o segundo na hierarquia da Igreja Católica no México. El Chapo foi preso duas semanas depois e, na cadeia, assumiu o comando absoluto do seu cartel. Ele fugiu em 2001 e foi recapturado em 2014, apenas para escapar de novo no ano passado.

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A chacina no aeroporto foi o equivalente, para os Arellano, ao atentado que Escobar ordenou a um avião comercial na Colômbia, em 1989, matando mais de 107 pessoas. O episódio reforçou a vontade política de desmantelar a organização criminosa e aumentou a cooperação entre as autoridades locais e a DEA. Um a um, os irmãos Arellano foram caindo. Ramón foi morto em uma batida policial. Eduardo e Benjamin foram presos e deportados para os Estados Unidos. Javier foi detido pelos próprios americanos ao se aventurar com seu iate em águas internacionais. Francisco foi assassinado em sua festa de aniversário por um matador vestido de palhaço.

Epstein cita, em sua reportagem, a seguinte frase a respeito da caçada a Pablo Escobar, contida no livro El Narco, de Ioan Grillo: “Como é típico no combate às drogas, a solução de um problema criou outro ainda maior.” Quando Escobar saiu de cena, os carteis mexicanos ocuparam seu espaço. No início da década de 90, o CAF traficava 40% da cocaína consumida nos Estados Unidos. Quando, por sua vez, os irmãos Arellano foram tirados de circulação, o Cartel de Sinaloa ganhou mais poder. A reportagem da The Atlantic revela que El Chapo não assistiu passivamente à queda de seus oponentes. Ao contrário, chegou a ajudar diretamente, enviando um de seus homens de confiança para fornecer informações aos agentes da DEA. O próprio El Chapo teria se oferecido para ser informante dos americanos com o intuito de derrubar os Arellano, mas a manobra foi barrada pelas autoridades americanas por questões éticas.

O reinado de El Chapo parece ter chegado ao fim, pois o governo mexicano está disposto a extraditá-lo para os Estados Unidos, de onde não terá capacidade de administrar o cartel.

Quem será o próximo poderoso chefão?

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