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Útero artificial pode ajudar na gestação de fetos prematuros

Sistema que imita um útero foi utilizado com sucesso na gestação de um cordeiro por 4 semanas e pode ser solução para a mortalidade de bebês perematuros

Por Da Redação
26 abr 2017, 10h15
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  • Cientistas desenvolveram um útero artificial para dar continuidade ao desenvolvimento de um feto de cordeiro prematuro, nascido com o equivalente a 23 semanas de gestação humana (idealmente são 38). Após realizarem um parto por cesariana, os pesquisadores do Children’s Hospital of Philadelphia, nos Estados Unidos, colocaram o feto em uma bolsa preenchida por um fluido que simulava a placenta, onde o animal permaneceu por quatro semanas e se desenvolveu normalmente. A estrutura,  que faz parte de um estudo divulgado nesta terça-feira na revista científica Nature Communications, pode transformar o tratamento de bebês que nascem extremamente prematuros, aumentando significativamente as chances de sobrevivência.

    Chamado de prematuridade em estado crítico – entre 23 e 26 semanas de gestação –, um bebê nesse período pesa um pouco mais do que 500 gramas e seus pulmões ainda não conseguem funcionar devidamente. A taxa de mortalidade nestes casos chega a 70%, e aqueles que sobrevivem enfrentam deficiências físicas, neurológicas ou educacionais por toda a vida. Segundo dados da ONG Prematuridade.com, a cada 30 segundos, um bebê morre em consequência do parto antecipado no Brasil.

    A ideia do projeto veio da médica Emily Partridge, que trabalha com o tratamento de bebês extremamente prematuros no Children’s Hospital of Philadelphia. “Essas crianças realmente mexem comigo”, disse em comunicado. Para dar um melhor suporte ao desenvolvimento desses indivíduos, Emily pesquisou a respeito de úteros artificiais, que já estavam sendo estudados e, em 2012, propôs aos colegas que desenvolvessem um modelo.

    De início, a equipe realizou experimentos em um tanque de vidro, até passarem para o “saco” de polietileno, utilizado no estudo. O material, usado para fabricar sacolas e embalagens, é impermeável, resistente, atóxico e quimicamente inerte, além de ser barato – o que, no lugar das atuais incubadoras e tratamentos neonatais, pode gerar uma economia de 43 bilhões de dólares anuais, só nos Estados Unidos.

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    Além disso, por oferecer condições muito semelhantes ao útero humano, segundo o médico Alan Flake, diretor do Centro de Pesquisa Fetal do Hospital of Philadelphia e líder do estudo, a qualidade da permanência no saco de polietileno pode ser muito superior, possibilitando um melhor desenvolvimento do feto. “Este sistema extrauterino é potencialmente muito melhor do que os hospitais podem atualmente fazer para um bebê de 23 semanas. Isso poderia estabelecer um novo padrão de cuidados”, disse Flake em comunicado.

    Útero artificial

    Para testar o sistema, os médicos fizeram o parto prematuro de oito cordeiros com o mínimo de tempo de gestação necessário para os órgãos estarem com tamanhos e funcionalidades suficientes e os animais não correrem risco de vida. Logo em seguida, os cordeiros foram inseridos no saco com o líquido amniótico e temperatura controlada e tiveram o cordão umbilical conectado a cateteres que faziam a oxigenação do sangue e a transmissão de nutrientes necessários e medicamentos, como a heparina, uma substância anticoagulante para que o sangue do animal flua normalmente, sendo bombeado por seu próprio coração.

    Durante a permanência no útero artificial, os cordeiros mostraram respiração e deglutição normais, abriram os olhos, tiveram um crescimento de lã, tornaram-se mais ativos e tiveram o desenvolvimento da função neurológica e maturação de órgãos como estomago, pulmões, cérebro normais. Segundo exames, as substâncias em sua corrente sanguínea também estavam dentro dos padrões.

    Outros modelos de úteros mecânicos sem o bombeamento artificial de sangue já haviam sido desenvolvidos. Entretanto, eles não conseguiram sustentar o feto por mais de sessenta horas e os animais testados apresentavam danos cerebrais ao fim do experimento. Neste estudo americano, os cordeiros ficaram por 670 horas no saco, o equivalente a 28 dias, período máximo permitido pelo protocolo de testes animais, o que sugere que eles poderiam continuar no sistema por mais tempo. Com o resultado promissor, os cientistas vão continuar a desenvolver e aprimorar o sistema, diminuindo-o para abrigar os fetos humanos, que têm apenas um terço do tamanho dos fetos de cordeiro.

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    Aplicação em humanos

    A pesquisa foi bem recebida pela comunidade científica e considerada como um grande avanço. No entanto, ainda levará muito tempo para que o sistema seja utilizado em humanos, ressalta o cientista Colin Duncan, Professor de Medicina e Ciência da Reprodução da Universidade de Edimburgo, na Grã-Bretanha. “Este é um conceito realmente atraente e este estudo é um passo muito importante. Ainda existem enormes desafios para refinar a técnica, para tornar os resultados mais consistentes e, para compará-los com as atuais estratégias de cuidados intensivos neonatais. Isso exige muitas pesquisas futuras”, escreveu em artigo que acompanha o estudo.

    Duncan comparou o sistema com a descoberta do uso injeções hormonais em grávidas que têm risco de parto prematuro para acelerar o desenvolvimento dos pulmões do feto. Os primeiros testes da aplicação também foram feitos, primeiramente, em ovinos. “Essa técnica melhorou a sobrevivência de bebês prematuros em todo o mundo e fez um enorme impacto na prática obstétrica e neonatal, mas esse tratamento demorou mais de 20 anos para entrar na prática clínica”.

     

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