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Sistemas de alerta contra desastres por chuvas são falhos, aponta estudo

Pesquisadores analisaram deslizamentos de terra provocados por tempestade em São Sebastião e sugerem envolvimento dos moradores em planos de contingência

Por Luciana Constantino, Agência Fapesp
Atualizado em 8 Maio 2024, 14h05 - Publicado em 2 Maio 2024, 14h33

Com a elevação constante das temperaturas e o aumento da frequência de eventos climáticos extremos, especialmente chuvas, os municípios brasileiros precisam desenvolver planos de contingência, com monitoramento eficiente e rápida resposta. Além de um eficaz sistema de alerta local, é necessário que a população entenda a real ameaça e saiba o que fazer ao receber o aviso de desastre iminente emitido pelos órgãos responsáveis. 

Essas recomendações estão entre as conclusões de uma pesquisa publicada na revista científica Natural Hazards. O trabalho resulta da análise detalhada dos deslizamentos de terra registrados na cidade de São Sebastião, no Litoral Norte de São Paulo, entre 18 e 19 de fevereiro de 2023. Para os cientistas, esse círculo de atuação não funcionou adequadamente no município, mesmo após os avisos emitidos dias antes pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).

Os deslizamentos ocorreram com as chuvas de volume sem precedentes na região – foram 683 mm em menos de 15 horas, enquanto a média mensal é de 300 mm. Pelo menos 65 pessoas morreram e centenas ficaram desalojadas, além das perdas de infraestrutura e dos danos materiais. Estradas foram arrastadas ou bloqueadas, causando graves dificuldades de transporte. À época, o governo decretou estado de emergência no município.

O estudo vem na sequência de outros dois artigos publicados no ano passado (nas revistas Weather and Climate Extremes e Natural Hazards and Earth System Sciences) que avaliavam as inundações e deslizamentos no Recife, entre 25 e 28 de maio de 2022, e em Petrópolis (RJ), em 15 de fevereiro do mesmo ano. Na capital de Pernambuco, mais de 130 pessoas morreram após uma chuva de 551 mm no período (140 mm superior à média de maio). Já no município fluminense houve um recorde, com mais de 230 óbitos.

Nos dois casos, as conclusões dos pesquisadores foram semelhantes: além do grande volume de chuva concentrado em poucas horas, houve uma combinação de crescimento urbano não planejado em encostas com a remoção de vegetação, além de falhas nos sistemas de alerta para a população e na evacuação das áreas de risco.

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Perdas

Em 32 anos (entre 1991 e 2022, último ano com dados disponíveis), o Brasil registrou mais de 3.900 óbitos provocados por ocorrências de alagamentos, enxurradas, inundações, chuvas intensas, tornados, vendavais, ciclones, granizo e movimento de massa. Segundo o Atlas Digital de Desastres no Brasil, plataforma da Defesa Civil Nacional, cerca de 16,71 milhões de pessoas foram afetadas por esses tipos de desastre no período, com danos totais chegando a R$ 27,12 bilhões.

Em 2023, o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) informou ter destinado R$ 1,4 bilhão para ações de proteção e defesa civil em 24 estados, sendo R$ 397 milhões para socorro e assistência à população e R$ 310 milhões para recuperação de infraestruturas e moradias danificadas ou destruídas.

De acordo com estimativas do Cemaden e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população exposta a riscos de deslizamentos, inundações e enxurradas chega a 8,27 milhões no país, dos quais 4,26 milhões estão na Região Sudeste. Em 872 municípios avaliados, 2,47 milhões de domicílios estavam em áreas de risco (com base no Censo 2010). A Base Territorial Estatística de Áreas de Risco (Bater) está sendo atualizada a partir dos resultados do Censo de 2022, mas os novos dados não foram divulgados.

Resultados

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No estudo, os cientistas apontaram que houve uma combinação de chuvas intensas atingindo áreas de risco densamente povoadas em São Sebastião com residências construídas em terrenos inclinados e íngremes. Já a condição meteorológica foi caracterizada por uma frente fria que cruzou o Atlântico Sul subtropical, onde a temperatura estava entre 1 °C e 2 °C mais quente do que o normal. Combinada com os relevos da Serra do Mar, a frente fria permaneceu estacionada sobre as áreas costeiras ao norte do estado, causando um evento extremo de precipitação intensa.

“Embora alertas tenham sido emitidos com antecedência, a resposta entre as comunidades foi mínima, indicando a ineficácia do atual sistema de alerta precoce em vigor. Isso demanda políticas públicas aprimoradas, comunicação e a possível adoção de sistemas de alerta precoce para reduzir o risco em áreas vulneráveis”, escreve o grupo no artigo.

Como sugestão, os pesquisadores apontam que, além de locais seguros e rotas de fuga – fundamentais para salvar vidas durante esses eventos –, é necessário um sistema de alerta “verdadeiramente eficaz”, que identifique o risco iminente, emita alertas em tempo hábil e garanta que as populações e setores em risco recebam o aviso, compreendam e ajam a partir dele.

*Com Agência Fapesp

 

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