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Refugiados muçulmanos e LGBTQI+ enfrentam maiores dificuldades na Alemanha

Estudo indica que, ao buscarem asilo no país, candidatos muçulmanos LGBTQI+ devem se encaixar em estereótipos (preconceituosos) para serem aceitos

Por Sabrina Brito Atualizado em 28 ago 2019, 20h37 - Publicado em 30 jul 2019, 12h55

Ao longo dos últimos anos, a Alemanha se tornou um dos maiores destinos de refugiados em todo o mundo. Só em 2015, o país recebeu aproximadamente 890 mil pessoas buscando asilo. Desde então, embora os números tenham caído com uma relativa calmaria nos movimentos migratórios desse tipo, a Alemanha ainda recebe anualmente mais de 150 mil indivíduos que procuram refúgio.

Apesar da grande ajuda que o país tem representado para essas pessoas, algumas delas ainda sofrem na hora de pedir asilo em terras alemãs. É o que aponta um novo estudo, publicado no último dia 25 no periódico científico Ethnic and Racial Studies. De acordo com as descobertas dos pesquisadores, refugiados que sejam muçulmanos e membros da comunidade LGBTQI+ precisam se encaixar em determinados estereótipos se quiserem ser aceitos na Alemanha.

A pesquisa foi feita com 15 pessoas autodeclaradas lésbicas, gays, bissexuais, transsexuais, queer e interssexuais. Todas buscavam asilo no país por causa de perseguição causada por sua orientação sexual e tinham como local de origem países como a Tunísia, Síria, Líbano, Irã e Paquistão. Também foram entrevistados advogados e juízes alemães especializados nos processos de migração e de refugiados.

Segundo os participantes do estudo, havia uma expectativa por parte dos responsáveis pelo processo de aceitação de asilo de que esses indivíduos fossem extravagantes e extrovertidos — características frequentemente (e com preconceito) associadas a homossexuais. Além disso, foi relatado que esses refugiados costumavam ter mais sucesso se conseguissem “comprovar” o fato de que são LGBTQI+ por meio de algum tipo de ativismo em seu país de origem, como a presença em paradas gays ou a filiação a grupos homossexuais.

Ou seja: para terem maiores chances de serem aceitos em território alemão, muçulmanos não-heterossexuais deviam se encaixar no estereótipo de LGBTQI+ concebido pelos juízes, advogados e outros funcionários do governo (além de grande parte de todo o mundo ocidental). Os candidatos, de acordo com os pesquisadores, tiveram que praticamente provar que sua não-heterossexualidade é parte permanente e importante de sua identidade. Ademais, alguns dos participantes tiveram que responder a perguntas sobre sua vida sexual durante o processo. Essa prática, além de invasiva, é proibida por leis da União Europeia.

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Muitas vezes vista como símbolo de liberdade e aceitação, — sobretudo em comparação com os países de maioria muçulmana do Oriente Médio, onde a homossexualidade é ilegal em algumas regiões — a Alemanha, nessa nova pesquisa, aparece como local onde a discriminação não só existe, como pode mudar drasticamente a vida das pessoas.

Outra conclusão do estudo foi a de que a maior parte dos candidatos bem-sucedidos já possuíam informações sobre o que era esperado deles nas entrevistas conduzidas por oficiais alemães. Assim, puderam preparar suas narrativas para se encaixar nas noções ocidentais de estilos de vida gay, bi e queer (como usar roupas ou acessórios com as cores do arco-íris ou demonstrar em público amor e afeição por alguém do mesmo sexo) — o que, muitas vezes, não é praticado em países muçulmanos, devido a proibições.

Os candidatos a quem o pedido de asilo foi negado falharam, segundo a pesquisa, ou porque não foram reconhecidos como LGBTQI+, ou porque terceiros não acreditaram na orientação sexual por eles declarada. Alguns ainda ouviram do entrevistador que, como não haviam “saído do armário” em seus países de origem, deveriam voltar para de onde vieram até que se assumissem.

Alguns entrevistados mencionaram ter se sentido acuados diante do oficial alemão, o qual muitas vezes apresentava atitudes homofóbicas ou transfóbicas ou não tinha conhecimento sobre a situação e estilo de vida LGBTQI+. Os responsáveis pelo estudo afirmam que é preciso treinar juízes, tradutores e tomadores de decisão sobre a temática, para que eles entendam as identidades de modo a não reproduzir preconceitos já vividos pelos candidatos a refúgio, em suas terras natais. Os pesquisadores acreditam também que mais ações precisam ser tomadas para garantir que todo muçulmano LGBTQI+ que busque asilo tenha o mesmo direito a refúgio que os heterossexuais.

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