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Os perigos do salto de 39 quilômetros

Um mergulho estratosférico, como o empreendido por Felix Baumgartner neste domingo, precisa lidar com uma pressão atmosférica cem vezes menor e radiação solar que pode ser fatal. Entenda como o austríaco se protegeu

Por Ricardo Carvalho e Guilherme Rosa
Atualizado em 6 Maio 2016, 16h26 - Publicado em 15 out 2012, 22h27

O salto do austríaco Felix Baumgartner entrou para a história como o mais alto já empreendido por um ser humano. Ao abrir a escotilha de cápsula, alçada por um balão de hélio a impressionantes 39 quilômetros de altura (na camada conhecida por estratosfera, entre 12 e 50 quilômetros do solo), Felix Baumgartner tinha literalmente a Terra a seus pés. Deixou-se cair e, 40 segundos depois, atingiu 1.350 quilômetros por hora, tornando-se o primeiro homem a superar a barreira do som sem propulsão. Dessa forma, aumentou o que se conhecia sobre os limites do corpo humano (veja outros homens que expandiram esses limites na lista abaixo).

O recorde anterior de altitude em saltos havia sido fixado há mais de 50 anos pelo americano Joe Kittinger, de 31.333 metros. Aos 84 anos, Kittinger – ainda dono da marca de mais longa queda livre já realizada – acompanhou o mergulho do austríaco da sala de controle em Roswell, no deserto do Novo México, nos Estados Unidos. Também estavam em Roswell uma legião de engenheiros, médicos e outros profissionais para cuidar dos mínimos detalhes da operação. Mesmo assim, os perigos que envolviam um salto dessa magnitude eram muitos. E a menor falha nos equipamentos de segurança – principalmente no traje de astronauta que Baumgartner utilizou – seria fatal.

De onde Baumgartner pulou, a pressão atmosférica é menos de um centésimo daquela com a que estamos acostumados ao nível do mar. Caso não estivesse equipado com um traje de astronauta pressurizado, a diferença entre a pressão interna e a estratosférica faria seu corpo simplesmente explodir. “É um efeito semelhante ao de se abrir uma lata de refrigerante”, diz o físico do Instituto de Física da USP Cláudio Furukawa. A questão é fundamental. Acredita-se que a despressurização tenha sido a causa da morte de duas pessoas que, como Baumgarten, tentaram quebrar o recorde de Joseph Kittinger – Pyotr Dolgov (1962) e Nick Piantanida (1966). Portanto, qualquer brecha ou falha no traje de astronauta ou na cápsula que transportou o paraquedista à estratosfera seria fatal.

O material que compõe a roupa de astronauta também precisou ser suficientemente resistente para proteger o corpo de Baumgartner de mudanças bruscas de temperatura em um curtíssimo espaço de tempo. Quando deu seu salto estratosférico, ele estava num ambiente a aproximadamente 20 graus negativos. Ao atingir 20 quilômetros de altura, a temperatura abaixou para 60 graus negativos. A partir daí, conforme se aproximou do chão, a temperatura subiu para 10 graus negativos (a cinco quilômetros de altura) e só passou de 20 graus muito perto do solo. Tudo isso em nove minutos de queda.

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Uma temperatura não tão gelada na estratosfera – apesar da altura – é explicada pela camada de ozônio. Afinal, o ponto de onde saltou o austríaco está exatamente no meio dessa capa protetora responsável por filtrar a radiação que vem do Sol (entre 25 e 50 quilômetros de altura). Por isso, a viseira do traje espacial precisa ser revestida com um material extremamente escuro para proteger os olhos e a pele do paraquedista. “Nessa altura, a quantidade de radiação não só o cegaria, como seria letal para o corpo humano”, explica o professor Ricardo Hallak, também do departamento de Ciências Atmosféricas do IAG-USP.

Parafuso – De acordo com a equipe que auxiliou o austríaco, houve um momento de especial apreensão durante o salto. Pouco depois de começar a cair, ele perdeu o controle e começou a girar em parafuso. Perder-se em subsequentes giros pode fazer com que o sangue se acumule nas extremidades da cabeça, causando efeitos como perda de consciência, de visão ou mesmo hemorragias. Felizmente, Baumgartner conseguiu estabilizar-se em seguida. Terminada a missão, Baumgartner foi responsável por quebrar mais um recorde: oito milhões de internautas acompanharam ao vivo o salto pelo Youtube, a maior audiência já registrada pelo site.

Correção

Agradecemos ao leitor Ricardo Guzzo, que apontou um erro na lista ‘Desafiando os limites do corpo humano‘, dentro desta reportagem. O recorde batido pelo mergulhador Herbert Nitsch não é de 86 metros de profundidade, como foi publicado, e sim de 214 metros, como está registrado no site da Associação Internacional para o Desenvolvimento da Apneia (https://www.aidainternational.org/competitive/worlds-records). A lista foi alterada e agora está com o número correto.

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