O genoma humano sofreu um processo de mutação intenso e acelerado num período que vai de 10.000 a 5.000 anos atrás, algo que criou diferenças entre os povos de origem europeia e africana na hora de responder a doenças.
Estas mutações ocorreram nas partes do DNA encarregadas de codificar as proteínas e 73% delas apareceram nesse intervalo. É um “breve fragmento de tempo” na história da evolução, explicou o pesquisador Joshua Akey, da Universidade de Washington.
Seu estudo, publicado nesta quarta-feira pela revista científica Nature, analisou o exoma – a parte do genoma que codifica as proteínas – de 6.515 americanos com antepassados europeus e africanos, e calculou a idade de mais de um milhão de mutações.
CONHEÇA A PESQUISA
Título original: Analysis of 6,515 exomes reveals the recent origin of most human protein-coding variants
Onde foi divulgada: revista Nature
Quem fez: T. O’Connor, G. Jun, H. Kang, G. Abecasis, S. Leal, S. Gabriel, D. Altshuler, J. Shendure, D. Nickerson, NHLBI Exome Sequencing Project & L. Akey
Instituição: Universidade de Washington, Seattle (EUA)
Resultado: Após analisar o exoma de mais de 6.500 americanos de descendência europeia e africana, os cientistas constataram que ocorreu um processo de mutação intenso nos últimos 5.000 anos, o que criou diferenças na hora de responder a doenças. Os descendentes de africanos, por exemplo, apresentaram uma menor variedade de mutações consideradas prejudiciais.
Os cientistas concluíram que o genoma dos seres humanos atuais é “consideravelmente diferente” do de 5.000 anos atrás, quando começou uma explosão demográfica pela qual a população mundial subiu das cerca de 10 milhões de pessoas para as 7 bilhões atuais.
Essas mudanças no DNA são “muito recentes dentro de uma perspectiva evolucionista. É realmente chocante que o panorama dessas regiões codificadoras de proteínas seja tão diferente do que era há poucos milhares de anos”, declarou Akey. Nesse sentido, os resultados demonstram “a marca que a história recente deixou sobre nosso material genético”, acrescentou o especialista.
Mutações prejudiciais – O estudo revelou que os americanos de origem europeia herdaram um maior número de mutações consideradas prejudiciais para a saúde do que seus compatriotas de procedência africana. Há milhares de anos, os antepassados europeus dos americanos emigraram da África à Europa e sofreram o que se conhece como “gargalo demográfico”, uma queda temporária de sua população.
Dado que a seleção natural funciona de forma menos eficiente em povoações pequenas como as que formaram esses indivíduos, seu material genético herdou um maior número de mutações prejudiciais, detalhou Akey, ressaltando que, embora exista, a diferença entre ambos grupos é “muito pequena.”
Determinar a idade dessas mutações e o momento no qual se produziram é importante para a reconstrução da evolução humana, assim como para melhorar o estudo de doenças genéticas. Nesse sentido, o cientista americano confia que seu trabalho beneficie a pesquisa de doenças como a fibrose cística, hipertensão, diabetes e obesidade.
(Com Agência EFE)