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Indústria do cinema é campo historicamente desigual para as mulheres

Estudo revelou a dominância do sexo masculino na indústria cinematográfica ao longo das décadas

Por Sabrina Brito Atualizado em 25 mar 2021, 16h21 - Publicado em 3 abr 2020, 15h02
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  • Especialmente em alta agora em tempos de quarentena, filmes têm sido fonte de entretenimento para a sociedade há mais de um século. No entanto, mais recentemente, um aspecto obscuro da indústria começou a virar assunto: o machismo de Hollywood.

    Em 2017, movimentos clamando pela igualdade entre os sexos pipocaram pelo mundo. Sob a forma de hashtags como #MeToo, que reuniram relatos de milhões de abusos e discriminações, mulheres de todo o planeta falaram sobre experiências machistas e violentas pelas quais tiveram que passar. 

    Um foco de abuso que ganhou atenção especial naquele ano foi o vivenciado por estrelas de Hollywood, em especial pelas vítimas do infame produtor Harvey Weinstein, predador sexual recentemente condenado a 23 anos de prisão por estupro. Entre convites para reuniões privadas e festas secretas, o milionário abusava e ameaçava atrizes de renome mundial.

    Por ter sido escancarado apenas recentemente, o machismo em Hollywood pode aparentar ser novo — mas isso está longe de ser verdade. É o que indicou, entre outras coisas, um estudo publicado no último dia 1 no periódico científico PLOS ONE.

    De acordo com a pesquisa, conduzida por profissionais do American Film Institute Archive e do site especializado IMDb, a representação feminina em Hollywood é extremamente precária — até mesmo durante a chamada Era de Ouro do cinema, que se deu entre 1927 e 1945.

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    Os especialistas analisaram mais de 26 mil filmes de todos os gêneros: ação, biografia, documentário, ficção científica, drama, etc., e contabilizaram o número de mulheres envolvidas na produção dos longa-metragens, fosse como atrizes, roteiristas, diretoras ou produtoras. Como resultado, os pesquisadores constataram que a presença de mulheres no ramo sempre foi muito baixa.

    Durante a Era de Ouro, afirmam os especialistas, a qualidade dos filmes passou por aumentos significantes, em parte graças ao desenvolvimento da tecnologia. O Mágico de Oz, E o Vento Levou e Casablanca são apenas alguns exemplos de clássicos incomparáveis produzidos nessa época.

    No entanto, apesar da excelente qualidade técnica dos longas, esse período contou com pouquíssima participação feminina na indústria. Segundo os envolvidos no estudo, parte da razão é que grande parte dos filmes produzidos nessa época era de faroeste, ação ou crime — gêneros que costumam ser associados aos ideais de virilidade e ao sexo masculino, e portanto envolver poucos papéis para mulheres.

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    Antes da Era de Ouro, ao longo da década de 1910, Hollywood era movida sobretudo por cineastas independentes. Havia, então, mais espaço para mulheres que quisessem escrever roteiros ou atuar. Até a segunda metade da década de 1920, o número de papéis para atrizes cresceu exponencialmente, alcançando 40% do total.

    Contudo, com a chegada da idade áurea do cinema, a quantidade de empregos disponíveis para atrizes na indústria caiu pela metade, enquanto menos de 1% dos postos para produção e direção cabiam às mulheres. Mas por que, com a decadência do cinema independente, a representação feminina teria caído tanto?

    Segundo os pesquisadores envolvidos no estudo, o grande culpado é o sistema de estúdios de cinema, que se instalou no lugar da produção alternativa. Nos anos 1920, foram formados os cinco grande estúdios de Hollywood que controlam até hoje uma fatia gigantesca da produção cinematográfica norte-americana. Tratam-se da Warner Bros., Paramount, MGM, Fox e RKO Pictures.

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    Para Luis Amaral, professor de engenharia química da Universidade Northwestern (EUA) e um dos autores do artigo, a condensação do poder nas mãos dos grandes estúdios trouxe consequências enormes para a desigualdade já existente no meio. “Os donos desses estúdios eram todos homens, e homens tendem a contratar mais homens. É mais natural para homens brancos pensar em outros homens brancos como colaboradores. A outra parte é misoginia.  Alguns homens não gostam nem respeitam mulheres”, explicou a VEJA.

    Os papéis que sobravam para as mulheres costumavam ser muito parecidos: donas de casa, moças subservientes ou mulheres sedutoras e irresistíveis. Hollywood ajudava a reforçar a imagem do sexo frágil, sempre necessitando de resgate por um Marlon Brando ou James Dean. De 1922 a 1950, a pesquisa apontou uma queda de quase 25% na participação feminina em elencos dos grandes filmes.

    Contudo, se homens ajudam homens, mulheres também podem contar com a ajuda umas das outras. Foi o que aconteceu com o caso Weinstein: uma denúncia levou a outra, que levou a outra e assim por diante, até que a hashtag #MeToo explodiu e foi publicada por quase 5 milhões de pessoas em 24 horas.

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    De fato, desde sua Era de Ouro, Hollywood tem se tornado cada vez mais feminina. Comparando a década de 1920 com a de 2010, a porcentagem de mulheres na direção foi de 1% a 12%. Desde o fim do período áureo, o número de papéis para moças tem crescido estavelmente na indústria.

    “Hollywood cultiva uma cultura de disparidade na contratação de gêneros, assim como diversas outras indústrias”, explicou Murielle Dunand, cientista da computação e coautora do estudo. Ainda há muito espaço a ser conquistado pelas mulheres no cinema norte-americano, e a luta não será fácil. “A indústria é machista, racista, homofóbica. Sofre das mesmas doenças que o resto da sociedade”, lembra Luis Amaral.

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