Depois de uma intensa pesquisa sobre histórias antigas de ribeirinhos, somadas a longas viagens de barco na floresta amazônica, o arqueólogo brasileiro Márcio Amaral, pesquisador do Instituto Mamirauá, do Amazonas, descobriu 13 ilhas criadas artificialmente por tribos indígenas. Segundo o estudo divulgado na segunda-feira, 20, todas as estruturas estão localizadas na região por onde corre o rio Içá, no Alto Solimões, na Amazônia.
As construções, com idades estimadas acima de 500 anos, chamadas de “aterrados” pelos locais, foram erguidas ao lado de cavadas, que são áreas com depressões, das quais o material para a construção das ilhas foi retirado, há centenas de anos. As estruturas são atribuídas aos antigos omáguas, povo indígena do tronco tupi que figura também nas crônicas antigas de navegadores espanhóis e portugueses que passaram pela região entre os séculos 16 e 19. Acredita-se que os omáguas são ascendentes dos atuais kambebas, etnia amazônida com aproximadamente 1.500 indivíduos em território brasileiro.
Cada uma das ilhas foram erguidas nos períodos pré-colonial e colonial, conta com uma área entre um e três hectares e tem entre seis e sete metros de elevação em relação à área alagada ao redor. Especula-se que elas foram feitas em regiões estratégicas para alimentação, onde são encontrados muitos peixes, quelônios e jacarés. E, de acordo com os cientistas, sem o projeto das estruturas, a área onde estão ficaria completamente inundada, impedindo cultivos tradicionais da Amazônia, como o açaí.
Outras estruturas parecidas já foram encontradas na Amazônia — na Ilha do Marajó, no Pará, e em Llanos de Mojos, na Bolívia. No Médio Solimões, um aterrado foi encontrado em 2018, ao mesmo tempo em que mais três no rio Jutaí e outras cinco nos rios Japurá e Auati-Paraná foram descobertas.