Pesquisadores identificaram, na Espanha, os fósseis mais antigos com características de neandertais já encontrados. A pesquisa, publicada nesta quinta-feira na revista Science, fornece evidências que confirmam a teoria de que a evolução dos neandertais não ocorreu de forma homogênea em todo o crânio, mas começou nos dentes e na mandíbula para depois atingir outras regiões.
CONHEÇA A PESQUISA
Título original: Neandertal roots: Cranial and chronological evidence from Sima de los Huesos
Onde foi divulgada: periódico Science
Quem fez: J. L. Arsuaga, I. Martínez, L. J. Arnold, A. Aranburu, A. Gracia-Téllez, W. D. Sharp, R. M. Quam, C. Falguères, A. Pantoja-Pérez, J. Bischoff, E. Poza-Rey e outros
Instituição: Universidade Complutense de Madrid, na Espanha, e outras
Resultado: Os pesquisadores identificaram os fósseis mais antigos com características de neandertais já encontrados. A pesquisa fornece evidências que confirmam a teoria de que a evolução dos neandertais não ocorreu de forma homogênea em todo o crânio, mas começou nos dentes e na mandíbula para depois atingir outras regiões.
Os novos dados obtidos com a exploração da caverna Sima de los Huesos, na Espanha, permitiram que os cientistas entendessem melhor a evolução dos hominídeos durante o Pleistoceno Médio, período que ocorreu há cerca de 500.000 anos. “Com os crânios que descobrimos, foi possível caracterizar a morfologia craniana de uma população humana europeia do Pleistoceno Médio pela primeira vez”, disse Ignacio Martínez, professor de paleontologia na Universidade de Alcalá, na Espanha, e um dos autores do estudo.
A caverna onde a descoberta foi feita tem sido explorada desde 1984. Ao longo dos anos de escavação, quase 7.000 fósseis humanos foram encontrados, pertencentes a pelo menos 28 indivíduos. Estudos de datação indicam que os fósseis, dentre os quais estão dezessete crânios fragmentados, têm cerca de 430.000 anos.
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Neandertais mais antigos – As amostras da caverna espanhola são as mais antigas com características faciais de neandertais. “Uma questão importante era se o ‘processo de neandertalização’ envolveu todas as regiões do crânio desde o início ou se, ao contrário, houve vários estágios que afetaram partes diferentes do crânio em momentos distintos”, explica Martínez.
O estudo mostrou que, em vez de uma mudança gradual em todo o crânio, as alterações aconteceram em pequenas partes. As amostras analisadas traziam características neandertais na face e nos dentes, mas não em outras regiões do crânio, que ainda eram parecidas com hominídeos mais primitivos.
Muitas das características dos neandertais encontradas nesse processo de transição eram relacionadas à mastigação. “Essas modificações tinham a ver com um uso intenso dos dentes frontais”, afirma Juan-Luis Arsuaga, professor de paleontologia da Universidade Complutense de Madrid, na Espanha, e principal autor do estudo. A pesquisa sugere que a modificação facial foi o primeiro passo na evolução neandertal.
Os pesquisadores ainda não atribuíram os fósseis estudados a uma espécie de hominídeo definida. Com base em estudos de DNA mitocondrial feito nas amostras, que indicam diferenças genéticas significativas em relação aos neandertais, eles acreditam que não se tratam apenas de “neandertais primitivos”, nem de outra espécie já conhecida. A questão deve ser resolvida no futuro, com mais escavações e estudos das amostras recolhidas.