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Dieta vegana não traz risco de transtorno alimentar, diz estudo

Pesquisadores também descobriram que grupo tem quase dez vezes menos chances de desenvolver disfunções em comparação com a média da população brasileira

Por Júlia Moióli, da Agência Fapesp
Atualizado em 20 set 2023, 09h40 - Publicado em 20 set 2023, 08h58

Motivada pela vontade de controlar o peso ou alcançar a boa forma, uma parcela significativa da população apresenta comportamentos, pensamentos ou sentimentos disfuncionais em relação à alimentação e ao corpo – é o que os especialistas chamam de “comportamento alimentar disfuncional” ou “comer transtornado”, um fator de risco para o desenvolvimento de transtornos alimentares. Estão nesse grupo as pessoas que adotam dietas restritivas de forma impulsiva, as que se submetem a longos jejuns ou comem em excesso, bem como os indivíduos que sentem culpa ao ingerir certos alimentos.

Um grupo de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) decidiu investigar a prevalência de comportamentos alimentares disfuncionais entre os adeptos da dieta vegana, que tem se tornado bastante popular em tempos de sustentabilidade. De acordo com resultados divulgados na revista JAMA Network Open, apenas 0,6% dos quase mil participantes apresentaram o tal “comer transtornado”, um valor dez vezes menor que os 6,5% observados na população brasileira em geral.

Os autores explicam que o objetivo do estudo foi verificar se havia uma associação entre comportamentos alimentares disfuncionais e a escolha por esse tipo de dieta. A hipótese aventada pela literatura é a de que a dieta vegana poderia ser utilizada para legitimar a rejeição a determinados alimentos ou a certas situações relacionadas à alimentação, camuflando possíveis sinais de comportamento alimentar disfuncional ou até mesmo de transtornos alimentares.

“No entanto, os resultados do estudo tiram esse peso da alimentação vegana, pois indicam que a presença de comportamentos alimentares disfuncionais está mais associada aos motivos que levaram à adoção de uma determinada dieta do que ao tipo de dieta em si”, conta o professor Hamilton Roschel, que coordena o Grupo de Pesquisa em Fisiologia Aplicada e Nutrição da USP.

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Segundo ele, o fato de 62% dos participantes terem relatado a preocupação com “ética e direitos dos animais” como motivação para aderir a uma dieta vegana – enquanto apenas 10% terem mencionado “razões de saúde” – ajuda a explicar a baixa prevalência de comportamentos alimentares disfuncionais no grupo estudado. “Entender as motivações para a adoção de uma dieta, bem como os motivos para as escolhas alimentares dos pacientes, nos ajuda a elaborar programas de atendimento nutricional mais focados e eficientes”, afirma.

Metodologia

Por meio de um questionário on-line, os pesquisadores da USP colheram informações sociodemográficas (como escolaridade, renda e geolocalização, entre outras) e avaliaram o consumo alimentar de 971 pessoas maiores de 18 anos de todo o país. Com todos os dados em mãos, foi possível observar qual era a porcentagem de adeptos da alimentação vegana que exibiam “comportamentos alimentares disfuncionais” e, consequentemente, estariam em maior risco para o desenvolvimento de transtornos alimentares.

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Em uma segunda etapa, o estudo financiado pela Fapesp (projetos 19/14820-6, 19/14819-8, 20/07860-9, 22/02229-4 e 17/13552-2) analisou os determinantes das escolhas alimentares dos participantes. Os motivos “necessidade e fome”, “gostar”, “saúde”, “hábitos” e “preocupações naturais” foram os mais importantes para essa população. Já “controle de emoções”, “normas sociais” e “imagem social” foram os menos importantes.

“Naturalmente precisamos avaliar a adequação nutricional e possíveis deficiências em dietas restritivas, mas, quando se trata de saúde mental, fica claro que o mais importante é entender o que levou cada pessoa a fazer sua escolha para monitorá-la e, se necessário, encaminhá-la adequadamente”, afirma Roschel. “Esses dados também podem ajudar a adequar intervenções públicas focadas na promoção da alimentação saudável e na prevenção ou tratamento dos transtornos alimentares.”

O pesquisador destaca a importância de estudos adicionais com amostras probabilísticas mais heterogêneas, que incluam avaliações qualitativas. E adverte que, por seguir um modelo transversal, o trabalho não permite inferir causalidade.

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A investigação foi conduzida pelo Grupo de Pesquisa em Fisiologia Aplicada e Nutrição, que reúne cientistas da Faculdade de Medicina (FM-USP) e da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE-USP), e foi liderada pelas pesquisadoras Bruna Caruso Mazzolani e Fabiana Infante Smaira. Colaboraram Bruno Gualano, Gabriel P. Esteves, Martin Hindermann Santini, Alice Erwig Leitão e Heloísa Santo André.

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