Demitido por Bolsonaro, Ricardo Galvão é eleito ‘cientista do ano’
Ex-diretor do Inpe, exonerado por divulgar dados de desmatamento, aparece na lista da prestigiada revista científica Nature, ao lado de outros nove nomes
“É necessário reagir com contundência. Fiz isso, mesmo sabendo que assim seria exonerado do INPE — o que ocorreu. Valeu a pena, pelo objetivo de defender a ciência perante o obscurantismo e o autoritarismo que caracterizam o círculo próximo ao presidente — a exemplo de ministros indicados por Olavo de Carvalho, que chega a questionar até o fato de que a Terra é redonda”, escreveu Ricardo Galvão em um artigo publicado em VEJA, em agosto. Na ocasião, o físico descreveu os bastidores de como procedeu ao receber os dados que indicavam o avanço na destruição da floresta amazônica, e sobre os embates com o presidente Bolsonaro e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
O reconhecimento do seu posicionamento, por assim dizer, foi anunciado nesta sexta-feira 13, pela revista científica Nature. O ex-presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (o Inpe) Ricardo Galvão é um dos dez especialistas escolhidos pela publicação, referência da área, para o “Nature’s 10”, premiação anual que prestigia os destaques na ciência.
A exoneração de Galvão, ocorrida em agosto, causou forte repercussão na comunidade científica brasileira e internacional. Na ocasião, Bolsonaro sugeriu que o cientista poderia “estar a serviço de alguma ONG” e questionou os dados divulgados pelo Inpe, que apontaram uma considerável aceleração do desmatamento na Amazônia no mês anterior. Seu substituto, o oficial da Aeronáutica Darcton Policarpo Damião disse, ao assumir o cargo, que o aquecimento global “não era sua praia”.
A indicação vem em tempo da 25ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP-25), em Madri, onde os índices de desmatamento anunciados pelo Inpe pesaram contra o tradicional protagonismo que o Brasil exercia nas negociações em torno do tema.