Por muito tempo, acreditava-se que críticos de cinema conseguiam prever o sucesso ou o fracasso de um determinado filme ao analisá-lo com base em estética, conteúdo e comunicação desses elementos com o público. Pesquisas mostravam, inclusive, que as críticas positivas e negativas se correlacionavam com as receitas de bilheteria, e o efeito das análises negativas diminuía ao longo do tempo. Pois cientistas da Universidade da Califórnia em Davis mostraram que não funciona mais assim, ao menos sob a perspectiva da indústria cinematográfica dos Estados Unidos.
Publicado na revista científica Marketing Letters, na última semana de abril, o estudo O que as críticas preveem sobre a receita de bilheteria do fim de semana de abertura: o prenúncio do efeito do fracasso na indústria cinematográfica analisou os comentários de pré-lançamento e as receitas de bilheteria do fim de semana de abertura de vários filmes. As descobertas têm implicações que podem mudar a forma como se percebe as críticas populares e midiáticas.
“Afirmamos que é essencial diferenciar os críticos de cinema, argumentando que a influência das críticas no desempenho das bilheterias não é uniforme entre todos os críticos”, disse o principal autor do estudo, Pantelis Loupos, professor assistente de marketing e análise de negócios na Universidade da Califórnia em Davis. “Em nossa análise, demonstramos que nem todas as críticas positivas ou negativas indicam necessariamente o sucesso ou o fracasso de um filme, respectivamente.”
Para realizar a pesquisa, os cientistas analisaram conjuntos de dados de três fontes diferentes. Primeiro, coletaram variáveis relacionadas ao filme, incluindo título, gênero, estúdio, se o filme é uma sequência, data de lançamento, receita do fim de semana de abertura e receita bruta do site Box Office Mojo. Em segundo lugar, coletaram estimativas dos orçamentos de filmes no site The Numbers. Por último, obtiveram informações relacionadas às análises do Rotten Tomatoes.
Os pesquisadores queriam saber se podiam prever o sucesso de um filme com base nessas críticas. “Curiosamente, quando esses críticos escreveram críticas positivas antes do lançamento, eles sinalizaram que o filme seria um fracasso”, disse Loupos. “Por outro lado, suas críticas negativas sugeriram que o filme seria um sucesso. Quanto mais forte o sentimento em qualquer direção, mais forte o sinal de previsão.”
Ao tomar como exemplo os lançamentos no circuito americano de Baywatch e Tomb Raider, os pesquisadores mostraram que as críticas majoritariamente positivas não impediram que os filmes se convertessem em grandes fracassos. O que é mais surpreendente, esse padrão persistiu mesmo com os principais críticos. “Esse resultado surpreendente desafia a crença predominante de que críticas positivas equivalem a melhores receitas de bilheteria”, disse ele.
Para entender esse paradoxo, os pesquisadores usaram a análise de texto para investigar o estilo de escrita desses arautos do fracasso, lançando luz sobre seus traços de personalidade e vieses cognitivos. O que veio à tona foi que os críticos se inclinam para um estilo de escrita formal e analítico, usando menos pronomes de auto-referência.
“Nossa nova perspectiva sobre o papel das personalidades dos críticos abre novos caminhos em nossa compreensão do espaço da crítica cinematográfica”, comentou Loupos. “É um reconhecimento importante de que a indústria cinematográfica é um quebra-cabeça de complexidade e imprevisibilidade.”