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Cientistas brasileiros encontram genes que produzem açúcar na cana

Descoberta pode aumentar produtividade da planta sem exigir novas áreas para o plantio

Por Jennifer Ann Thomas Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Sabrina Brito 18 jul 2018, 12h21

Plantas possuem genomas maiores e mais complexos do que aqueles encontrados em alguns animais, como répteis e mamíferos. Dentro do grupo vegetal, a cana-de-açúcar apresenta um DNA especialmente complicado. Até recentemente, nenhum laboratório havia estudado e compreendido esse genoma de forma completa. Isso mudou no começo do ano, quando a geneticista de plantas Anete Pereira de Souza e três de seus alunos na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) localizaram alguns dos genes que são, provavelmente, os responsáveis pela produção de açúcar no vegetal.

A descoberta, se confirmada, pode levar a um aumento na produtividade do etanol, do próprio açúcar e melhorar o poder calorífico do bagaço de cana, queimado em usinas termoelétricas. Com o melhoramento genético da planta, ela poderia se tornar mais resistente ao clima ou a pragas, por exemplo.

O projeto está em estágio de pesquisa (a população total investigada pelos cientistas tem de 400 a 500 indivíduos), mas o grupo começou há sete anos. Foi em 2011 que o então doutorando Danilo Sforça, um dos três estudantes de Souza, viajou à França para organizar o estudo. Em Toulouse, ele montou bibliotecas do genoma da cana-de-açúcar que serviram para iniciar o sequenciamento da espécie. O estudo permitiria aos pesquisadores identificar e ordenar os pedaços de DNA, ajudando-os a entender melhor a sua estrutura genética.

Depois do retorno de Danilo ao Brasil, a pós-doutoranda Melina Mancini optou por vasculhar as bibliotecas que o colega organizara, procurando similaridades nos materiais genéticos da cana e do sorgo, um tipo de cereal considerado seu “primo”. Essa decisão de comparar os dois vegetais foi determinante para o sucesso do grupo, uma vez que a ideia de Mancini acabou por construir um enorme atalho. “Ao invés de procurar a esmo na cana, era melhor olhar para o sorgo, cujo DNA já estava sequenciado. Encontramos uma região com mais de 60 genes de interesse entre os dois. Com técnicas moleculares, buscamos os genes parecidos na cana”, explicou Anete. Mas essa era a parte fácil.

Segundo a cientista, o problema está na hora de juntar as peças do quebra-cabeça — no caso, as 68 cadeias de genes correspondentes a 1,2 milhão de bases. É muito difícil, diz ela, encaixar os genes na sequência correta, porque é complicado saber em qual cromossomo eles ficam dentre as milhões de possibilidades. Foi só com a ajuda de Mancini que essa etapa começou a ser desvendada. A estudante foi responsável por montar essa ordem de bases e as organizar em nove lacunas. Desse total, seis foram preenchidas pelos pesquisadores com o DNA adequado. As outras três ainda estão à espera de mais estudos para serem completadas.

Ainda assim, o intuito dos pesquisadores não é sequenciar todo o genoma da cana-de-açúcar, mas sim as regiões envolvidas com a produção de açúcar ou com os fatores que podem influenciar na produtividade, como a tolerância a pragas, doenças e condições ambientais. O Brasil desponta como principal interessado e beneficiário desse trabalho, já que o país é o maior produtor mundial de cana.

Em março deste ano, foi discutido no Senado o projeto de lei 626/2011, do senador Flexa Ribeiro. A ideia do político era autorizar o plantio da cana-de-açúcar na Amazônia legal brasileira. O programa sofreu duras críticas de organizações ambientais e da própria indústria, que temia manchar sua imagem no exterior. A votação final do projeto foi adiada.

Caso as apostas de Anete sejam confirmadas, o aumento na produtividade da cana (e, consequentemente, do açúcar) será notado. Com isso, desde a geração de energia até a produção de etanol seriam alavancados pela descoberta. “O país tem o talento do agronegócio, que, além de mover diversas indústrias, se relaciona com máquinas agrícolas, pneus, álcool como combustível e energia vinda do bagaço. A pesquisa nessa área não pode parar”, conclui a geneticista.

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