Que as redes sociais são propensas a formação de bolhas não é uma novidade, mas, agora, o núcleo de Neuromatemática da Universidade de São Paulo (USP) utilizou um modelo matemático para explicar como isso pode influenciar as eleições. De acordo com os autores, essas plataformas são como máquinas de fabricação de consenso, em especial em ambientes polarizados.
Para fazer essa investigação os pesquisadores montaram um modelo matemático que tenta reproduzir os efeitos das redes sociais na polarização política. Segundo os autores, no algoritmo criado por eles, cada usuário se influencia mutuamente, o que gera uma pressão social. Quando um determinado fato ocorre, essa pressão faz com que a maioria dos indivíduos adiram a uma opinião, geralmente favorável ou contrária a um assunto.
“Em uma situação altamente polarizada, essa característica faz com que nosso modelo seja uma espécie de máquina de construção de consenso”, dizem os autores no estudo publicado no periódico científico Stochastic Processes and their Applications.
Apesar disso, os autores defendem uma “metaestabilidade” desse consenso. Esse é um conceito incorporado da física e significa que o consenso pode parecer perpétuo, mas ele vai diminuindo ao longo do tempo e pode mudar rapidamente, por intervenção de fatos novos ou influenciadores – o que pode ser uma figura pública, uma reportagem ou até mesmo os famosos e disseminados robôs.
Como o estudo explica a polarização?
Os pesquisadores deram início a essa linha de pesquisa após a grande influência das redes sociais nas eleições de 2018. De acordo com eles, campanhas políticas que se apropriam da lógica dos algoritmos das grandes plataformas impulsionam a criação de consensos na rede, mesmo que não sejam duradouros.
Isso foi observado na corrida eleitoral de São Paulo, em 2024, na evolução de Pablo Marçal. Os autores analisam que um consenso a favor do candidato se formou rapidamente após o primeiro debate, quando ele conseguiu pautar a discussão, o que ficou evidente no rápido aumento das intenções de votos observados nas pesquisas.
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A metaestabilidade, no entanto, também se provou real. Após o declínio natural da primeira opinião coletiva, um novo consenso logo se formou a partir do episódio da cadeirada, dessa vez contrário ao candidato. Há dúvidas sobre o quanto isso influenciou o resultado do pleito, mas o coro nas redes sociais não mente sobre o posicionamento dos usuários, ao menos em relação a esse episódio específico.
Só esse exemplo, é importante reforçar, não é suficiente para provar o modelo, portanto, ele precisa ser aplicado a outras situações eleitorais para que seja afinado e reflita a realidade de maneira mais precisa. De qualquer modo, é a ciência mostrando que, no exercício da cidadania, a matemática pode ter utilidade para muito além das pesquisas eleitorais.