Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Carmen Portinho e Dea Paranhos, pioneiras do urbanismo no Brasil

Historiadora Camila Belarmino resgata história de arquitetas e urbanistas que tiveram papel importante na construção do país

Por Alessandro Giannini Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 8 mar 2023, 15h44 - Publicado em 8 mar 2023, 10h39

Em um de seus últimos atos como presidente da República, Jair Bolsonaro sancionou sem vetos, em dezembro do ano passado, a Lei 14.477/22. O texto declara Patrona do Urbanismo no Brasil a engenheira Carmen Velasco Portinho (1903-2001), tia-avó do senador Carlos Portinho (PL-RJ), proponente do projeto de lei original. Sem questionar o mérito do título, Portinho talvez não tenha sido a única mulher a se formar urbanista naquele longínquo 1939, no Rio de Janeiro. A arquiteta Dea Torres Paranhos (1915- 2001) estava na mesma primeira turma do curso da Universidade do Distrito Federal e, embora não tenha obtido o diploma em razão de uma discussão com os professores, fez todo o curso e defendeu o trabalho final.

Atribui-se o destaque de Portinho a uma projeção histórica mais estruturada. Em 1945,  sugeriu ao então prefeito do Rio de Janeiro, Henrique Dodsworth, a criação de um departamento de habitação popular para sanar a falta de moradias no município. Com o marido, o arquiteto Afonso Reidy (1909-1964), foi responsável por diversos projetos marcantes, como o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM). Também fundou, ao lado de Bertha Lutz, Jerônima Mesquita e Stella Guerra Durval, a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, associada ao movimento sufragista internacional, que buscava a igualdade de gênero e a autonomia das mulheres.

A historiadora Camila Belarmino, que trabalha em uma tese de doutorado acerca de 25 arquitetas e urbanistas do Brasil, diz que Portinho foi a primeira engenheira urbanista, e Paranhos, a primeira arquiteta e urbanista. Ambas trabalharam juntas no serviço público, primeiro do Distrito Federal e depois do Estado da Guanabara. Também atuaram em prol das conquistas profissionais para suas respectivas categorias e participaram ativamente do movimento feminista. “Eram próximas e estavam sempre juntas”, diz a historiadora.

Portinho estudou na Escola Politécnica do Rio. Paranhos estudou na Escola Nacional de Belas Artes – em sua turma estava Oscar Niemeyer. De 1935 a 1939, elas fazem o curso de urbanismo na Universidade do Distrito Federal, que tem uma curta existência. Era como se fosse um curso de extensão, porque o urbanismo ainda não havia sido incorporado à área de arquitetura no currículo universitário – isso só ocorreria depois da reforma educacional de 1968. “Para valorizar o ofício de arquiteto, o título concedido era o de engenheiro-arquiteto”, explica Belarmino.

Continua após a publicidade

No caso de Paranhos, há um componente político importante. A arquiteta e urbanista foi uma forte opositora da ditadura do Estado Novo, representada na figura de Getúlio Vargas. Participou ativamente como uma das organizadoras do I Congresso de Urbanismo no Brasil, em 1941. Também ajudou a fundar, com Portinho, a Associação Brasileira de Engenheiras e Arquitetas (ABEA), primeira entidade de classe feminina brasileira. Em 1965, foi uma das escolhidas para escrever o livro comemorativo dos 400 anos do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro em seus 400 anos.

Paranhos trabalhou como desenhista sob as ordens de Portinho, na Prefeitura do então Distrito Federal. Depois, ela  assumiria a função de arquiteta. Mais tarde, trabalharia como funcionária do Estado da Guanabara e integraria a equipe da Superintendência de Urbanização e Saneamento do DF. Foi nesse período que brigou com Lotta Macedo Soares, arquiteta e urbanista autodidata convidada por Carlos Lacerda para projetar o Parque do Flamengo. “Dea criticou muito o projeto porque o considerava elitista”, conta Belarmino.

Intitulado A Mulher na Arquitetura e no Urbanismo: Trajetórias Profissionais entre as décadas de 1910 e 1960 no Rio de Janeiro, o artigo acadêmico de Camila Belarmino falará sobre a inexplicável falta de destaque para essas pioneiras do início do século XX, analisa suas trajetórias e o impacto de seus trabalhos e lutas pessoais. Desenvolvido no âmbito do programa de pós-graduação do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP, será defendido no fim do ano e a perspectiva é que se transforme em um livro mais adiante.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.