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Atividade atômica durante Guerra Fria deixou marcas no solo brasileiro

Documentário ‘A Era dos Humanos’ registra marcos do antropoceno no Brasil

Por Luiz Paulo Souza Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 13 set 2023, 12h27
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  • Nos últimos meses, muito se tem falado sobre o antropoceno, época geológica que marca o impacto da atividade humana no planeta. O local escolhido pelos cientistas para marcar o início desse novo tempo foi o lago Crawford, no Canadá, que registrou em seu solo traços bem marcados da atividade atômica que floresceu no século passado. No entanto, isso não aconteceu apenas por lá. A corrida armamentista da Guerra Fria também ficou marcada nas terras brasileiras. E esse impacto é mostrado – ao lado de dezenas de outras ações antrópicas – pelo documentário A Era dos Humanos, que chega aos cinemas nesta segunda-feira, 11. 

    As marcas no solo foram registradas pelo pesquisador Rubens Cesar Lopes Figueira, do Instituto de Oceanografia da Universidade de São Paulo (USP). Ao longo de 10 anos, ele e seu grupo de pesquisa coletaram 24 amostras ao longo da costa brasileira. E, a partir delas, conseguiram detectar traços de césio-137, uma forma radioativa do elemento que se depositou em uma camada do solo que coincide com o período da Guerra Fria, quando muitos testes de bombas atômicas e de hidrogênio ocorreram. 

    “Os testes nucleares vão introduzindo elementos radioativos artificiais no ambiente”, afirmou Figueira em entrevista à VEJA. “Esses elementos se espalham pela atmosfera e se depositam em todo o mundo – dependendo do solo, isso fica registrado nas camadas de sedimentos.”

    No lago Crawford, o elemento detectado foi o plutônio, diferente do analisado pelos pesquisadores brasileiros, mas a causa da ocorrência dessas fontes de radiação é a mesma. A diferença é que a meia vida do césio-137 é de 30 anos e a do plutônio é de 24 mil anos, ou seja, em algumas décadas o primeiro deixará de ser detectável, enquanto o segundo ficará registrado nos solos lamosos de todo o mundo por muitos milênios. Trata-se de uma marca quase definitiva da nossa passagem por aqui. 

    No filme, produzido pelo Grupo Storm, dirigido por Iara Cardoso e apresentado por Marcos Palmeira, o pesquisador brasileiro foi convidado a coletar um testemunho, como são chamadas essas amostras, do solo de Caravelas, na Bahia, onde esse isótopo radioativo também ficou marcado.

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    DIRETORA E APRESENTADOR: Iara Cardoso e Marcos Palmeira trabalham juntos no filme A Era dos Humanos
    DIRETORA E APRESENTADOR: Iara Cardoso e Marcos Palmeira trabalham juntos no filme A Era dos Humanos (Aline Branca/Grupo Storm/Divulgação)

    Essa é apenas uma das evidências da passagem dos humanos pelo planeta que foram registradas pelo filme. Em meio à condução de Marcos Palmeira, de inserções do apresentador Luciano Huck e comentários de empresários do ramo da energia elétrica, pesquisadores e divulgadores científicos atestam o tamanho do impacto antrópico na natureza. “Os cientistas brasileiros têm pesquisas incríveis e apresentamos em A Era dos Humanos mais de vinte áreas do conhecimento para mostrar que tudo está conectado”, afirmou a VEJA a diretora Iara Cardoso. 

    Os impactos são mesmo extensos, e ficam marcados pelo desequilíbrio – as emissões de gases do efeito estufa que se assemelham às que causaram grandes extinções, o fogo que dizima ecossistemas, a água contaminada com microplásticos, a terra explorada à exaustão.  

    Em meio ao tom apocalíptico dessa torrente de resultados alarmantes, no entanto, há uma mensagem de esperança, que na voz inspiradora do apresentador é apoiada no respeito e na empatia. “Sem dúvida, podemos reverter este cenário”, afirma Cardoso. “Precisamos repensar nossa relação com o planeta e com os outros seres vivos que compartilham conosco esta casa comum. Ao nos conectarmos à natureza e ao todo do qual fazemos parte, nos sentimos mais felizes e conseguimos entender que somos parte desse equilíbrio que é a vida na Terra.”

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