10 bilhões de iPhones: estudo revela o tamanho do lixo eletrônico gerado por IAs
Até 2030, montante anual pode crescer até mil vezes
Desde a popularização das inteligências artificiais generativas, no final de 2022, tem crescido também a preocupação sobre seu impacto ambiental. Já é extensa a literatura que reflete o peso dessa tecnologia sobre o consumo de energia, mas, agora, uma pesquisa revelou uma grande influência potencial sobre a geração de lixo.
O estudo foi publicado no periódico científico Nature Computational Science, nesta segunda-feira, 28, e mostra que, até 2030, os grandes modelos de linguagem – como são chamadas os programas como o ChatGPT e o Gemini – podem aumentar em até mil vezes a quantidade de lixo eletrônico gerado.
O estudo estima que, neste ano, 2,3 mil toneladas de lixo eletrônico serão produzidas por essas ferramentas. Até 2030, no entanto, essa quantidade pode aumentar significativamente, para algo entre 0,4 e 5 milhões de toneladas anualmente, o que equivale a algo entre 0,2 e 2,3 iPhones jogados fora por habitante do planeta. “Em última análise, as nossas conclusões destacam a necessidade premente de antecipar futuros surtos de resíduos eletrônicos relacionados com IAs generativas”, escrevem os autores.
Como resolver o problema do lixo eletrônico?
Isso acontece porque, como ficou evidente no último ano, esse tipo de tecnologia evolui rapidamente e está frequentemente demandando uma atualização de infraestrutura, o que inclui aumento de capacidade de processamento e armazenamento, por exemplo. O lixo provém das peças que não são mais suficientes para suprir as necessidades de maior poder computacional.
Os autores não defendem, contudo, que o desenvolvimento dessas tecnologias seja interrompido. “Nosso estudo não visa prever com precisão a quantidade de servidores de IA e seus resíduos eletrônicos associados, mas sim fornecer estimativas brutas iniciais que destaquem as escalas potenciais do desafio futuro e explorar possíveis soluções de economia circular”, diz o estudo.
Para eles, a saída está em estratégias como prolongar o tempo de uso desses equipamentos, reutilizar os componentes ou reciclar o hardware para extrair materiais de valor. De acordo com as análises, isso pode reduzir a geração de resíduos eletrônicos em algo entre 16 e 86%.
Quanto lixo eletrônico é produzido anualmente?
Outro estudo também divulgado este ano, pela ONU, revela que o crescimento do lixo eletrônico ocorre em uma escala muito maior do que a sua reciclagem. Em 2022, a produção desse tipo de resíduo bateu recorde e chegou a 62 milhões de toneladas, consolidando um aumento anual de 2,6 milhões de toneladas, o equivalente a cinco vezes mais do que o aumento na reciclagem.
De fato, um outro levantamento revela um desperdício de 10 bilhões de dólares em materiais que poderiam ser recuperados anualmente, como brinquedos, cabos e até vapes. “O lixo eletrônico invisível passa despercebido devido à sua natureza ou aparência, levando os consumidores a ignorar seu potencial reciclável”, disse Pascal Leroy, presidente do Fórum WEEE, um centro multinacional de avaliação desse tipo de resíduo, em comunicado.
Esse é um problema pois muitos equipamentos eletrônicos possuem baterias ou outros componentes tóxicos. “Se não forem tratadas adequadamente, substâncias como chumbo, mercúrio ou cádmio podem infiltrar-se e contaminar o solo e a água”, diz Leroy.