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Yes, nós temos azeite

Banidas pela Coroa portuguesa e inexistentes até poucos anos atrás, as plantações de oliveira no Brasil já produzem óleos premiados nos rankings mundiais

Por Fabio Codeço
Atualizado em 25 jan 2019, 07h00 - Publicado em 25 jan 2019, 07h00

As primeiras mudas de oliveira chegaram ao Brasil embarcadas nas caravelas portuguesas. Foi só no século XVIII que uma turma de colonos teve a ideia de prensar as azeitonas para delas extrair o precioso azeite. Deu-se uma crise. Preocupada com o surgimento de um concorrente no profícuo ramo da produção do óleo, a família real mandou que se arrancassem do solo brasileiro todos os pés da planta, e o negócio adormeceu por três séculos. Os ventos, porém, começaram a soprar nestes tempos modernos a favor das oliveiras nacionais — e com intensidade. Na mais recente edição do catálogo italiano Flos Olei, referência mundial para consumidores e produtores de azeite, sete marcas brasileiras aparecem no rol das melhores do mundo, lista dominada por italianos, espanhóis e portugueses. Nos últimos três anos, os rótulos daqui amea­lharam mais de sessenta prêmios de relevo no universo da olivicultura.

Diante de vigorosa reviravolta histórica, por que não se nota o fenômeno nos supermercados e tanta gente volta do exterior com uns frascos na mala? Primeiro, porque, sendo a produção nacional recente (estreou comercialmente em 2010 com o rótulo Olivas do Sul), ela é modesta perto do volume importado. A título de comparação: a safra de 2019 deve chegar a 200 000 litros — um recorde, sim, mas ainda uma gota no oceano do consumo brasileiro de azeite, na casa de 100 milhões de litros anuais. Um segundo ponto é que, como falta escala à produção, os preços são muito altos (60 reais em média o vidro nacional de meio litro versus 25 reais o importado). Em suma, azeite brasileiro é item de luxo e encontra-se sobretudo em prateleiras mais selecionadas.

O engenheiro Luiz Fernando de Oliveira, coordenador de estudos da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais, que há uma década se debruça sobre a adaptação das oliveiras ao cenário local, aposta em uma chacoalhada nos pomares. “A expansão da produção fará ampliar o mercado, o que já está em andamento”, diz. No longínquo período em que os portugueses baniram as oliveiras, disseminou-se a ideia de que o Brasil não tinha nem clima nem expertise para fazer azeite, e isso foi se sacramentando como verdade absoluta. Mas não é bem assim. De fato, o cultivo adequado de azeitonas requer invernos úmidos e verões secos, o que não se encontra em boa parte do país. No entanto, no Rio Grande do Sul, de onde vem 70% da produção nacional, e nas altitudes de certas áreas de Espírito Santo, Bahia e Goiás, a conjunção climática ajuda. O mais premiado rótulo nacional, o Prosperato, que se junta às mais de quarenta marcas registradas por aqui, é obra dos gaúchos.

(Arte/VEJA)

Produzir azeite exige paciência e capital para esperar que o negócio frutifique, literalmente. A léguas de distância do clima temperado da bacia do Mediterrâneo, a empreitada tropical é naturalmente mais complicada — os agricultores brasileiros precisam passar por um jogo de tentativa e erro que costuma durar dez anos, tempo para a planta atingir a maturidade. Só depois vem o prêmio: uma mesma muda pode germinar durante cinco séculos. O Brasil está aprendendo rápido. A produtividade no Sul (de 4 toneladas de azeitona por hectare) ombreia com a dos campeoníssimos espanhóis. “A recente assimilação de boas práticas tem contribuído muito para que a indústria local viceje”, afirma Eudes Marchetti, fabricante do Prosperato e presidente do Instituto Brasileiro de Olivicultura.

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Assim como o vinho, o azeite varia do intragável, com gosto de óleo puro, ao saboroso e delicado. Chegar à excelência requer ciência. Quanto menos manipulados a planta e o extrato que advém dela, melhor. Não é indicado, por exemplo, que as azeitonas toquem o solo, e por isso elas são recolhidas — manualmente ou por máquinas — em redes. Os azeites com status de premium são extravirgens, os mais puros de todos; não incluem solventes nem destilação na fórmula e apresentam acidez de até 0,8%. “Alguns produtores brasileiros seguem a tendência mundial, de azeites mais suaves, como o Borriello; outros procuram blends de alta complexidade aromática, como o Verde Louro”, observa Sandro Marques, autor de O Guia de Azeites do Brasil. Seja como for, consuma com moderação. Mesmo em se tratando de um alimento saudável, uma singela colher de sopa de azeite concentra oitenta calorias.

Publicado em VEJA de 30 de janeiro de 2019, edição nº 2619

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