Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Um dos gigantes do Congresso, União Brasil põe em xeque aliança com Lula

O partido, “dono” de três ministérios, dispara críticas ao Planalto e mostra o tamanho da fragilidade da base do governo

Por Laísa Dall'Agnol Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 20 Maio 2023, 08h00

Um dos maiores partidos da Câmara, o União Brasil, com 59 deputados, despontou como um valioso aliado no início do atual governo. Em troca de apoio, a sigla foi agraciada com três ministérios, a mesma quantia entregue a legendas importantes como o PSB do vice Geraldo Alckmin, o MDB da ex-presidenciável Simone Tebet e o ascendente PSD de Gilberto Kassab. Na primeira votação importante, no entanto, o União, que nasceu da fusão do DEM e do ex-bolsonarista PSL, votou de forma unânime para derrubar os decretos de Lula que alteravam o marco do saneamento. O movimento pegou o governo de surpresa e acendeu o alerta ao mostrar o tamanho da fragilidade da base e o fiasco da articulação dos representantes do Planalto. Mais do que isso: deixou no ar muitas dúvidas sobre a fidelidade do novo parceiro e o futuro desse casamento.

Um dos principais pontos da discórdia matrimonial está exatamente nos ministérios que o União supostamente ocupa. A avaliação de membros da sigla é a de que os ocupantes das pastas foram escolhas pessoais de Lula e não contemplam a legenda. É o caso de Daniela Carneiro (Turismo), esposa do prefeito de Belford Roxo (RJ) Waguinho, um apoiador importante do petista na Baixada Fluminense na campanha. De malas prontas para o Republicanos, a ministra é tida como uma decisão unilateral do presidente para acomodar interesses junto ao casal. Situação semelhante acontece com Waldez Góes (Desenvolvimento Regional). Indicado pelo senador Davi Alcolumbre (União-AP), o ministro nem sequer formalizou sua migração para a sigla — está no PDT — e é visto como um estranho no ninho. O mais enturmado no partido é Juscelino Filho (Comunicações), que foi forçado a submergir após se envolver em suspeitas de ocultação de patrimônio e de uso do orçamento secreto para benefício próprio. Sua ausência no debate sobre a regulamentação das redes sociais, um dos assuntos quentes do Congresso, inclusive, é vista como um sinal de degola iminente.

RISCO - Arthur Maia: aliado crítico, vai comandar CPMI que interessa ao governo
RISCO - Arthur Maia: aliado crítico, vai comandar CPMI que interessa ao governo (Billy Boss/Câmara dos Deputados)

Para além da Esplanada, os problemas se multiplicam e são centrados, principalmente, na ineficácia do governo para liberar emendas e distribuir cargos de segundo escalão. Episódios recentes que geraram mal-­estar foram as nomeações para o Conselho de Itaipu e a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). Interlocutores queixam-se de que, mesmo após acertadas as indicações, o governo rearranja os acordos. “Querem apoio na hora de votar, mas há uma dificuldade constante pelo comportamento do governo. Aparece petista para tudo o que você imaginar”, diz um parlamentar. O desalinho programático também tem sido um entrave, como ocorreu no marco do saneamento. “A bancada tem majoritariamente uma formação reformista e liberal. O governo não tem capacidade de diálogo para ter essa compreensão, mas vai ter que ter”, afirma Danilo Forte (União-CE). “O governo precisa entender que a vitória do Lula não corresponde a uma vitória do ideário de esquerda. Ele se elegeu falando em governo de coalizão”, concorda Arthur Maia (União-­BA).

Uma das figuras mais criticadas é o ministro Rui Costa (Casa Civil), que teria tentado tirar da sigla a superintendência da Codevasf. “Eles têm o governo da Bahia na mão, mas para eles não adianta compartilhar. Não entendem que queremos ajudar o governo. O que querem é aniquilar os adversários da província”, queixa-se um deputado. O próprio Lula irritou o partido ao ofender o ex-prefeito ACM Neto chamando-o de “grampinho” em ato na Bahia — referência a uma investigação sobre grampos telefônicos envolvendo Antonio Carlos Magalhães, avô do secretário-geral do União. ACM é um aliado de primeira hora de Arthur Maia, que deverá comandar a CPMI do 8 de Janeiro, cujo andamento interessa ao governo.

Continua após a publicidade
DE SAÍDA - Daniela Carneiro (Turismo): ministra deve ir para o Republicanos
DE SAÍDA - Daniela Carneiro (Turismo): ministra deve ir para o Republicanos (Roberto Castro/MT/.)

A fragilidade da aliança pode fazer o governo rever os comandos dos três ministérios que deu ao União Brasil. Entre os parlamentares da sigla, apesar do descontentamento quase geral, ninguém fala ainda em rompimento, embora sempre tratem o governo na terceira pessoa. Na quarta 17, o partido deu sinal de paz ao votar em peso pela aprovação da urgência do projeto do arcabouço fiscal — 44 votos a favor, onze contra e uma abstenção. O imbróglio com o União, porém, é só o exemplo mais gritante da base frágil que o governo montou no Congresso, algo reconhecido por Lula, que admitiu que poderá ter de negociar projeto a projeto com os parlamentares. Uma estratégia arriscada em um Congresso fragmentado, que saiu da eleição mais à direita e que não hesita em cobrar caro pelo apoio que empresta. O União já vai mostrando a sua fatura.

Publicado em VEJA de 24 de maio de 2023, edição nº 2842

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.