A combinação de chuvas torrenciais com falta de planejamento urbano segue fazendo vítimas pelo Brasil. Desde o último dia 25 de maio os deslizamentos no Grande Recife mataram pelo menos 106 pessoas, deixaram dezenas de desaparecidos e milhares de desabrigados. A cada dia, o Corpo de Bombeiros encontrava mais e mais corpos soterrados. Trata-se da maior tragédia ambiental na capital pernambucana, superando as chocantes cenas de 1975, quando 80% da cidade ficou submersa e 104 pessoas morreram. O aumento das chuvas, que atingiu também os estados de Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte e Sergipe, foi causado pelo recorrente fenômeno chamado Distúrbio Ondulatório de Leste (DOL), como são denominadas as frentes frias que surgem no Oceano Atlântico, próximas à costa da África, e avançam até o litoral nordestino. Só em 2022, as águas deixaram um rastro de destruição em Minas Gerais, na Bahia e em Petrópolis, na Região Serrana do Rio. O presidente Jair Bolsonaro admitiu que as políticas de prevenção falharam, mas tentou dividir a culpa com a população. “Sabíamos, sim, que isso ia acontecer. A responsabilidade é nossa, dos políticos, mas a população pode colaborar evitando construir casa em locais de risco”, disse. Um relatório recente produzido pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU apontou Recife, conhecida como a Veneza Brasileira, como a 16ª cidade do mundo mais ameaçada pela emergência climática e pelo avanço do nível do mar. Passou da hora de agir.
Publicado em VEJA de 8 de junho de 2022, edição nº 2792