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Supremo barraco

Animosidade entre ministros do STF chega a um nível jamais visto, e ameaça arranhar a imagem da mais alta corte de Justiça do país - o que só interessa aos mensaleiros às vésperas do julgamento mais emblemático do tribunal

Por Mirella D'Elia
20 abr 2012, 15h26
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  • O cenário era de pompa. Em um dos mais luxuosos espaços para eventos da capital federal, a nata do Judiciário se reuniu até a madrugada desta sexta-feira para homenagear o novo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), o sergipano Carlos Ayres Britto, de 69 anos, empossado horas antes para um mandato de apenas sete meses, uma vez que a aposentadoria é compulsória para os magistrados aos 70 anos. À primeira vista, o clima era de celebração. Ao espectador mais atento, no entanto, ficou evidente que não era bem assim. Leia também: Antonio Fernando, sobre mensalão: ‘Que olhem os documentos’ De um lado, Ayres Britto, em êxtase, recebia os cumprimentos dos convidados e mal conseguia circular no salão lotado. De outro, ministros desabafavam, criticavam os colegas e lavavam roupa suja. Uma entrevista publicada nesta sexta-feira pelo jornal O Globo, em que Joaquim Barbosa chama o colega Cezar Peluso, que acaba de encerrar o seu mandato como presidente do STF, de “ridículo”, “brega”, “caipira”, “corporativista”, “desleal”, “tirano” e “pequeno”, escancarou o que já estava patente na noite de ontem: a animosidade entre os ministros do STF chegou a um nível jamais visto, e ameaça arranhar a imagem da mais alta corte de Justiça do país. Gota-d’água – A fala de Barbosa foi resposta a uma outra entrevista, concedida por Peluso ao site Consultor Jurídico, em que ele tachou o colega de inseguro e dono de temperamento difícil. Barbosa já tinha dado uma mostra de que aumentaria o tom e responderia sem dó às declarações de Peluso na noite de quarta-feira. “O Peluso se acha. Ele não sabe perder”, disse, na ocasião, a um pequeno grupo de jornalistas, nitidamente abatido e muito irritado. Barbosa parecia muito cansado e, por vezes, até mesmo constrangido na solenidade de posse, na noite de quinta-feira, no edifício-sede do STF. O ministro, que operou o quadril e tem um crônico problema de coluna, não conseguiu ficar de pé até o fim para receber os cumprimentos dos cerca de 2 000 convidados. Teve passagem discreta pela recepção que se seguiu. Ele assumirá o comando do Supremo em novembro, com a aposentadoria de Ayres Britto. “Aí vocês verão o tamanho da incompetência dele”, disse um dos magistrados. Já o ministro Cezar Peluso fugiu da imprensa após as bombásticas declarações, em que apontou a metralhadora também para outros alvos, como a presidente Dilma Rousseff e a corregedora nacional de Justiça Eliana Calmon. O clima está tão pesado que surpreende até mesmo quem já comandou o Supremo. “É inconcebível que a mais alta corte tenha membros se digladiando quando, afinal de contas, todos estão ali para servir a uma causa, a da Justiça”, diz o ex-presidente do STF Carlos Velloso, que presidiu a corte entre 1999 e 2001. “Isso nunca existiu no Supremo Tribunal Federal. É claro que num tribunal com homens de personalidade, todos com alto saber jurídico, surgiam divergências e muitas vezes as discussões se tornavam ásperas, mas ficavam sempre no campo das ideias”. O novo chefe do STF, Ayres Britto, não pretende intervir – pelo menos por enquanto. “Vou esperar a poeira baixar”, disse a interlocutores. Para Velloso, ele pode atuar como “bombeiro” em sua gestão. Divergências à parte, o fato é que o Supremo precisa arrumar a casa e se preparar para analisar o maior escândalo do governo Lula. O julgamento vai durar semanas – só para a sustentação oral dos acusados, por exemplo, serão necessárias cerca de 40 horas. Enfraquecer a imagem da corte com picuinhas entre seus integrantes, em momento tão crucial para a democracia brasileira, só interessa a quem está no banco dos réus.

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