Policiais militares acusados de extorsão vão prestar depoimento na manhã de quarta-feira
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Durante mais de cinco horas, peritos do Instituto Carlos Éboli tentaram reconstruir com riqueza de detalhes a cena da morte do jovem Rafael Mascarenhas, filho da atriz Cissa Guimarães, no Túnel Acústico, na Gávea, zona sul do Rio. Sucessivas arrancadas, frenagens e medições feitas pelos investigadores geraram dados que, somados aos depoimentos dos skatistas e dos quatro jovens que ocupavam o Siena e o Honda Civic usados na noite da tragédia, ajudarão a polícia a entender o que se passou no local na madrugada do último dia 20.
A principal pergunta a ser respondida sairá de um cálculo matemático relativamente simples: a distância a que Rafael Mascarenhas foi lançado a partir do ponto em que foi atingido pelo Siena dirigido por Rafael Bussamra. Os peritos vão calcular, a partir da força necessária para projetar o rapaz, a velocidade em que o veículo trafegava. Dependendo da velocidade estimada, o motorista poderá ser responsabilizado considerando que disputava um racha – o que ajudaria a acusação a qualificar o homicídio como doloso, ou seja, quando há intenção de matar.
Uma a uma, as testemunhas descreveram os fatos ocorridos na hora do atropelamento, sem que pudessem ser orientadas por seus advogados. O skatista João Pedro
Gonçalves, melhor amigo de Rafael Mascarenhas, refez seus passos e também simulou a exata hora no atropelamento do jovem. Ele e Luís Quinderé, o outro skatista que acompanhava Rafael na noite do acidente, indicaram o ponto onde o corpo do jovem ficou estirado após o impacto. Os peritos marcaram o local com giz. Havia ainda um terceiro skatista, menor de idade, que interpretou o papel de Mascarenhas.
Depois deles, foi a vez dos ocupantes do Honda Civic, que supostamente estaria disputando corrida com o carro que atropelou Mascarenhas. O carona Gustavo Miraldes Bulus foi o primeiro a dar sua versão. Em seguida, foi a vez do motorista Gabriel Henrique de Souza Ribeiro.
Também participou da reprodução simulada o carona do Siena, André Liberal. Os policiais chegaram a levar um notebook exclusivamente para colher o depoimento de Liberal, que não compareceu à 15ª DP (Gávea) na manhã de segunda-feira, conforme esperado. Ele justificou a ausência dizendo que estava na Região dos Lagos. No início da tarde desta terça-feira, a polícia informou que o depoimento do rapaz tinha sido reagendado para as 14 horas.
Figura central da reconstituição, o motorista Rafael Bussamra foi o último a participar. Dessa vez, ele ocupou o banco do carona e apenas orientava o perito que assumiu o volante. O veículo utilizado foi o próprio Siena preto que matou Mascarenhas. Por questão de segurança, o carro teve o para-brisa substituído – o vidro ficou destruído na madrugada do atropelamento. O relógio já marcava 5h40 da manhã quando Bussamra foi liberado, após uma detalhada simulação. O motorista teve a oportunidade de mostrar, em condições similares, como acertou o filho de Cissa Guimarães e de argumentar os motivos que o impediram de desviar a tempo.
Os peritos ainda aproveitaram para vasculhar o asfalto em busca de vestígios de sangue, com o auxílio de um spray. A partir da tarde desta terça-feira, as informações serão processadas, cruzadas com os relatos dos jovens e com os laudos periciais do Instituto de Criminalística Carlos Éboli. A conclusão do inquérito, pela delegada Bárbar Lomba, da 15ª DP (Gávea), deve ocorrer ainda esta semana.
Depoimentos – Novos depoimentos são esperados para esta quarta-feira, quando devem ser ouvidos os policiais militares acusados de extorsão pela família Bussamra, o sargento Marcelo Leal Martins e o cabo Marcelo Bigon. A polícia não descarta a participação de um terceiro PM, que teria participado da ação pelo rádio, orientando sobre o melhor local para viatura se posicionar, longe das câmeras da CET-Rio.
Nesta terça-feira, às 19h, será celebrada a missa de sétimo dia de Rafael Mascarenhas, na Igreja Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, na zona sul do Rio.