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Relatório de inspeção pedia reparos na barragem da Vale

Elaborado pela empresa alemã Tüv Süd, o documento atesta a estabilidade da barragem, mas aponta ressalvas

Por Eduardo Gonçalves e Roberta Paduan
Atualizado em 4 fev 2019, 19h38 - Publicado em 4 fev 2019, 15h45
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  • Responsável por inspecionar a barragem do Córrego do Feijão, que se rompeu no dia 25 de janeiro, deixando até agora 134 mortos e 199 pessoas desaparecidas (segundo o boletim mais recente, desta segunda-feira, 4), a empresa alemã Tüv Süd fez uma série de recomendações à Vale, empresa mineradora que controlava as instalações, para melhorar a segurança do reservatório. As informações constam em dois relatórios de mais de 350 páginas produzidos em junho e setembro do ano passado, aos quais VEJA teve acesso. Entre as medidas, as principais eram a instalação de novos piezômetros, equipamentos que medem a pressão interna da barragem, em locais fora da cobertura dos outros já em operação; e a colocação de instrumentos que identificam abalos sísmicos na base da estrutura, que poderiam ser provocados por explosões em outras minas do complexo minerário da região e pelas obras de descomissionamento.

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    (Vale/Reprodução)

    No dia do desmoronamento, quatro funcionários da empresa Geocontrole operavam uma sonda de perfuração no topo da barragem para a instalação dos novos piezômetros. A sonda foi tragada pelo rompimento do dique de contenção. Os quatro funcionários da Geocontrole só sobreviveram porque foram almoçar em outro local no momento do desabamento a empresa iniciara as sondagens havia três semanas e seus funcionários ainda não tinham autorização para almoçar no restaurante da mineradora. A Geocontrole perdeu dois funcionários no desastre de Mariana, em 2015, no rompimento da barragem do Fundão.

    Os documentos da Tüv Süd estão assinados pelos engenheiros Makoto Namba e André Yum Yassuda, que foram presos na terça-feira, 29, sob suspeita de crime ambiental, falsidade ideológica e homicídio qualificado com dolo eventual (quando se assume o risco de causar algum dano mesmo sem ter a intenção de cometê-lo). O advogado deles, Augusto de Arruda Botelho, afirma que os mandados de prisão temporária foram “desnecessários” e “ilegais” e que a juíza de Brumadinho não levou em conta as ressalvas e recomendações feitas pelos engenheiros à Vale nas centenas de páginas dos dois relatórios. “O Ministério Público só apresentou a última folha do relatório (que atestava a segurança da barragem). Isso foi feito apenas para se ter uma pseudossensação de que se está fazendo alguma coisa”, disse ele. Botelho está entrando hoje com um pedido de habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça. Além dos dois engenheiros, estão presos três gerentes da Vale responsáveis pelo monitoramento e operação do reservatório.

    Nas conclusões, os engenheiros da Tüv Süd certificavam que a barragem estava em “condições adequadas” e cumpria a legislação vigente. Mas, além das recomendações, faziam algumas ressalvas: “Ainda são necessários desenvolvimentos, uma vez que análises de equilíbrio limite não consideram o comportamento tensão-deformação do rejeito, e é este que controla o fenômeno físico de liquefação”, diz o texto. A liquefação ocorre quando, por algum fator externo, geralmente uma vibração muito forte, a parede de contenção da barragem sólida fica mais líquida e desmorona pelas imagens divulgadas na última semana, esta foi a principal hipótese levantada como causa do desastre.

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    O documento também elenca uma série de “anomalias” na estrutura da barragem, verificadas pela própria Vale em 2016 e 2017. São elas: assoreamento de canaletas (acúmulo de terra ou sedimento nas canaletas que drenam a barragem), trincas na parede de descida d’água, existência de erosões superficiais, formação de cupinzeiros e formigueiros, presença de vegetação no canal do sistema extravasor, vazamento na tubulação de água para a comunidade.

    A empresa considerou, no entanto, que não foram detectadas “anomalias relevantes” e que a Vale apresentou planos de ação para resolver esses problemas. “A partir do que foi verificado em campo, conclui-se que a estrutura se encontrava em condições adequadas de segurança tanto do ponto de vista de dimensionamento das estruturas hidráulicas quanto da estabilidade física do maciço”, diz o relatório.

    A barragem do Córrego do Feijão seguia o modelo de construção “a montante”, no qual novas paredes são levantadas (o chamado “alteamento”) com o próprio acúmulo de rejeitos de mineração. Um problema apontado pela Tüv Süd diz respeito à documentação dos dez alteamentos que foram feitos na barragem desde 1976, quando foi inaugurada. Segundo a empresa, “as informações disponíveis não são confiáveis ou inexistem, em especial no que diz respeito ao sistema de drenagem interna e caracterização física e mecânica dos materiais”. Na inspeção in loco feita pela empresa em agosto de 2017, os técnicos também encontraram animais na área da barragem, o que não poderia acontecer; e a presença de um lago ao fundo do reservatório.

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    Os engenheiros também averiguaram o material que constituía a barragem e concluiu que nele havia 2,6% de composto suscetível à liquefação (ou seja, ao desmoronamento), nível considerado baixo para suscitar preocupação.  O relatório, no entanto, chama a atenção para a presença de rejeitos com baixa permeabilidade e resistência, indicando que um “possível gatilho” poderia provocar um efeito similar ao ocorrido na barragem de Fundão, da Samarco, que se rompeu em 2015 matando 19 pessoas em Mariana (MG).

    Para reduzir os fatores de instabilidade, a empresa de auditoria recomendou à Vale que evite detonações próximas ao local, o tráfego de equipamentos pesados, a elevação do nível da água e a realização de obras que sobrecarreguem o reservatório.

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    (Vale/Reprodução)
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    (Vale/Reprodução)
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