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Quadrilha executou assassinatos em série nos presídios

Comando Vermelho determinou "limpeza" que inclui a eliminação de bandidos considerados traidores e mira também em policiais e agentes penitenciários

Por Leslie Leitão Atualizado em 10 dez 2018, 10h28 - Publicado em 19 nov 2013, 11h39

Conhecidos por seu total desrespeito às leis, os chefões do tráficos mostram-se implacáveis na hora de cumprir os códigos e decisões das quadrilhas. O depoimento à polícia do traficante Rodrigo Prudêncio Barbosa, 35 anos, o Gordinho, revelado por VEJA, detalhou uma lista de execuções tramadas pelo Comando Vermelho. Os assassinatos seriam uma “limpa” na facção, com alvos que vão de bandidos dos quais os chefões queriam se livrar a autoridades. As informações apresentadas por Gordinho aos policiais, em um depoimento gravado em vídeo e ao qual VEJA teve acesso, mostram como a quadrilha está empenhada em se fortalecer para recuperar territórios perdidos para as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) e para traficantes rivais.

O CV criou uma espécie de “estatuto”, decidido por uma “comissão” de treze criminosos presos no Complexo de Gericinó, em Bangu, na Zona Oeste do Rio. Os chefes da quadrilha estabeleceram, de dentro do presídio, e com informações passadas por seus pares em liberdade, uma relação de quatorze nomes que deveriam pagar com a vida, todos eles cumprindo pena. O motivo do depoimento de Gordinho, segundo ele próprio admitiu, é o medo de morrer pelas mãos dos assassinos do Comando Vermelho.

Quadrilha resgatou traficantes em presídio para fortalecer a guerra nas favelas do Rio

O primeiro a morrer foi Alexandro Costa dos Santos, em 4 de março deste ano. Os chefes da quadrilha suspeitam que ele tenha desviado 700 reais da caixinha de uma igreja que funciona dentro do presídio. Quatro meses mais tarde, em 8 de julho, Eduíno Eustáquio de Araújo, o Dudu da Rocinha, foi acusado de ser informante de agentes penitenciários que, um mês antes, haviam apreendido dezesseis celulares, duas granadas, duas pistolas e uma pequena quantidade de droga dentro das celas do presídio Vicente Piragibe. O julgamento do conselho sentenciou os dois presos com a pena de morte.

https://www.youtube.com/watch?v=56W_B2qEnJI

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Dudu era colega de cela de Gordinho. Na época, as declarações que Gordinho deu à Divisão de Homicídios da Polícia Civil resultaram na decretação de prisão de treze bandidos, entre eles chefões – ou “conselheiros” do CV – como Adair Marlon Duarte, o Aldair da Mangueira, hoje “presidente” do CV dentro de Bangu 3, Ronaldo Pinto Lima e Silva, o Ronaldinho Tabajara, Roberto de Souza Brito, o Metralha, e Charles Silva Batista, o Charles do Lixão, todos acusados de serem os mandantes da morte de Dudu.

Os detalhes da morte na cela tornam o crime digno das vendetas da máfia italiana. Os assassinos entupiram o nariz de Dudu com cocaína enquanto ele era asfixiado, para que o caso fosse interpretado como uma overdose.

VEJA teve acesso a três depoimentos de Gordinho, dois deles prestados à Secretaria de Administração Penitenciária (Seap). O juiz do 3º Tribunal de Juri, Murilo Kieling, decretou também a prisão dos homens acusados diretamente da execução. Ele conta que os executores foram Murilo Almeida de Melo, o Gordão da Vila Kenedy, e Adriano Soares de Jesus, o Montanha, que enforcaram Dudu, além de Alexandre Antonio dos Santos, o Juca Bala, apontado como responsável por assoprar cocaína dentro do nariz da vítima.

Em seu longo depoimento, Gordinho aponta também os autores de pelo menos outros doze homicídios. Entre eles, o misterioso desaparecimento do inspetor da Polícia Civil Sérgio Lopes de Souza Junior, lotado na 50ª DP (Itaguaí), visto pela última vez em janeiro deste ano. Segundo Gordinho, ele teria sido capturado por traficantes da Zona Oeste e executado. “Foi o Léo do Rodo que ordenou a morte do policial”, afirmou. O bandido se refere a Leandro Pereira da Silva, que também está preso.

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Proteção – Gordinho, a partir das revelações que fez à polícia, tornou-se alguém marcado para morrer, e por isso cercado de proteção. Passou por três presídios, e, atualmente, não come a mesma comida servida nas unidades prisionais, pois há o temor de que os traficantes tentem envenená-lo.

No Rio de Janeiro, as execuções planejadas pelo Comando Vermelho são uma preocupação constante das autoridades policiais e penitenciárias. A lista de vítimas das execuções do CV tem diretores de presídios, como Sidneia dos Santos de Jesus, em 2000, e o tenente-coronel José Roberto do Amaral Lourenço, em 2008. De acordo com os relatos do detento que decidiu colaborar com a polícia, o objetivo agora seria executar um dos principais integrantes da cúpula da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) atual, cujo nome é mantido em sigilo.

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