A Polícia Federal deflagrou, na manhã desta terça-feira, uma operação para desmantelar uma quadrilha de tráfico de armas. Entre os alvos está Ronnie Lessa, ex-policial militar, acusado de ser o executor dos assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
Lessa está preso em um presídio federal em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, onde foi interrogado. Em entrevista exclusiva a VEJA, ele negou que participasse do comércio ilegal de armas de fogo e alegou ser apenas um colecionador.
A operação foi batizada de Flórida Heat porque a quadrilha tinha braços em Miami, de onde enviava armas dos para o Brasil.
Segundo as investigações, o grupo adquiria armas e munições nos Estados Unidos e os enviava ao Brasil desmontadas, por meio de cargas marítimas em containeres e encomendas postais de avião. Os pontos de entrada eram os estados do Amazonas, São Paulo e Santa Catarina. Na maioria dos casos, o material era acondicionado dentro de equipamentos, como máquinas de soldas e impressoras, e eram despachados juntamente a outros itens como telefones, equipamentos eletrônicos, suplementos alimentares, roupas e calçados.
Os policiais também investigaram uma residência no bairro de Vila Isabel, no Rio de Janeiro, que é considerado o endereço final das remessas. Dali, as peças eram retiradas pelos integrantes da quadrilha responsáveis por fazer a usinagem e montagem do armamento. Em alguns casos, eles utilizavam impressoras 3D para fazer algumas partes em plástico, prática conhecida como Ghost Gunner. Posteriormente, as armas eram distribuídas para traficantes, milicianos e assassinos de aluguel.
O dinheiro para a compra do armamento era enviado do Brasil para os EUA através de doleiros. Foi identificado um brasileiro, dono de churrascarias, em Boston, que recebia parte desse dinheiro e repassava para os alvos residentes nos EUA.
O bando investia o dinheiro adquirido com o tráfico de armas em imóveis residenciais, criptomoedas, ações, veículos e embarcações de luxo. A justiça decretou o sequestro de bens da quadrilha, avaliados em cerca de 10 milhões de reais. Ao longo da investigação, foram apreendidos milhares de armas, peças, acessórios e munições de diversos calibres, tanto no Brasil, quanto nos EUA.
Cerca de cinquenta policiais federais e promotores do Grupo de Combate ao Crime Organizado do Ministerio Publico Federal e agentes americanos, cumprem sete mandados de busca e prisão preventiva expedidos pela 1ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro.
Em Miami, a operação conta com apoio da Agência de Investigações de Segurança Interna (Homeland Security Investigations – HSI) da Embaixada dos Estados Unidos.