A Polícia Federal concluiu nesta sexta-feira o laudo da perícia das conversas gravadas secretamente pelo dono da JBS, Joesley Batista, em um encontro não oficial que ele teve com o presidente Michel Temer no Palácio do Jaburu, no dia 7 de março, segundo informações do jornal O Estado de S. Paulo. O resultado da análise deve ser encaminhada ainda hoje ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato na Corte.
O laudo era a parte que faltava ao inquérito parcial enviado na última segunda-feira. Apesar de o relatório não estar completo, a PF entendeu que já há indícios de materialidade da prática de corrupção passiva pelo presidente e seu ex-assessor e ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), que está preso em Brasília. “Resultam incólumes as evidências que emanam do conjunto informativo formado nestes autos, a indicar, com vigor, a prática de corrupção passiva”, escreveu a PF.
O controverso diálogo foi entregue por Joesley como prova do que ele relatou na delação premiada firmada com a Procuradoria-Geral da República e homologada pelo STF. O acordo gerou a investigação contra Temer por corrupção passiva, obstrução de Justiça e organização criminosa, e garantiu ao empresário o perdão por todos os crimes confessados até aquele momento.
No áudio, Joesley fala sobre iniciativas que estaria tomando em relação ao deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que está preso em Curitiba desde outubro de 2016 e já foi condenado a quinze anos de prisão pelo juiz Sergio Moro. O executivo diz que havia “zerado as pendências” e que estava “de bem” com Cunha. Temer, então, responde: “É, tem que manter isso, viu?”.
Em declaração à PGR, o delator interpretou a frase como um sinal verde do presidente para que ele continuasse pagando o ex-parlamentar com o objetivo de evitar que ele colaborasse com a Justiça em uma eventual delação premiada. Temer negou essas acusações e contestou a integridade do áudio, que tem diversos trechos inaudíveis. Cunha afirmou que o seu silêncio nunca esteve à venda.
A perícia no áudio foi pedida a Fachin pela defesa de Temer e aceita pela procuradoria. Os advogados do peemedebista também contrataram o perito Ricardo Molina, que avaliou a gravação e concluiu não ser possível assegurar a sua autenticidade. “Não dá para dizer que é edição. Tem alguma falha sistêmica neste gravador. A questão é: dá pra garantir que é autêntica? Não”.
O inquérito vai basear a denúncia que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentará contra Temer. Se ela de fato ocorrer, o processo só seguirá adiante no STF se for aprovado por 342 dos 513 deputados. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), já afirmou que está disposto a suspender o recesso parlamentar de julho para analisar a acusação. A expectativa hoje é que Temer tem forças para barrá-la no Legislativo.
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