As entidades de defesa ambiental do Brasil e do exterior lamentaram a saída de Marina Silva do governo brasileiro, anunciada na tarde de terça-feira. Segundo os líderes de ONGs que atuam nessa área, o pedido de demissão da ministra do Meio Ambiente prejudica a imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva dentro e fora do país. Marina era uma das figuras mais respeitadas do governo no exterior. Sua saída é vista como sinal claro do fracasso da política ambiental de Lula.
“A ministra tentou mostrar para os colegas de ministério que, para o Brasil ser moderno, ele precisava integrar a dimensão ambiental ao seu desenvolvimento”, afirma José Maria Cardoso da Silva, da ONG Conservação Internacional, em entrevista publicada nesta quarta-feira pelo jornal Folha de S. Paulo. “Mas os seus colegas, que pensam o desenvolvimento somente em uma dimensão, a econômica, não foram capazes de aproveitar os conselhos dela. Perdem o governo e o país.”
Na avaliação de Roberto Smeraldi, diretor da ONG Amigos da Terra, a demissão de Marina encerra a “ambigüidade” entre o discurso de Lula, que se diz preocupado com a questão ambiental, e as políticas do governo na prática. “Ela tinha uma credibilidade ambiental inigualável”, disse Smeraldi, que atribui a saída da ministra a um “acúmulo progressivo de passivos em seu currículo” e à frustração com o resto do governo. Marina teve atritos com vários outros titulares de pastas.
Frank Guggenheim, diretor do grupo Greenpeace, disse que a saída de Marina mostra que “o ambiente na visão deste governo é só um entrave ao progresso, uma pedra no caminho”. “Agora o rei está nu, a roupa verde do presidente foi levada.” Denise Hamú, secretária-geral da ONG WWF, concorda: “Trata-se de clara demonstração de que a área ambiental não tem espaço no atual governo. A demissão de Marina terá uma repercussão bastante negativa para o Brasil no exterior.”
Pragmáticos – Marina Silva ocupava o cargo no governo desde 2003. Na carta que enviou a Lula, ela atribuiu a saída às dificuldades enfrentadas há algum tempo para seguir implementando a agenda ambiental do governo. Além disso, a interferência do ministro de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, na área de meio ambiente, pode ter ajudado na decisão de Marina. Lula já pediu a liberação de Carlos Minc — secretário de Ambiente do Rio de Janeiro –, ao governador Sérgio Cabral, para o lugar de Marina.
Oficialmente, o Palácio do Planalto informa que o presidente ainda não tomou uma decisão sobre o substituto de Marina Silva. Conforme reportagem publicada nesta quarta pelo jornal O Estado de S. Paulo, a chance de Minc esbarra num problema: a preferência do PT pelo nome do ex-governador do Acre, Jorge Viana. Tanto Minc como Viana, contudo, são considerados mais pragmáticos e flexíveis que Marina, o que deve reduzir os conflitos com outras pastas — mas também afrouxar as precauções ambientais.
Eram 16h30 de ontem quando Lula ligou para Sérgio Cabral:
– Sérgio, a Marina pediu demissão. Ela me mandou uma carta que eu não quero nem ler… Preciso do Minc.
– Mas Lula, ele é importante para o Rio de Janeiro.
Lula insistiu. Disse qu não era só ele que “precisava” de Carlos Minc:
– O Brasil precisa dele, Sérgio.