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Nova vítima de padre aparece após capa de VEJA

Ao todo, oito pessoas denunciam o clérigo Pedro Leandro Ricardo

Por João Batista Jr. Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 27 jul 2019, 08h33 - Publicado em 27 jul 2019, 08h33

Um dos maiores escândalos da Igreja Católica brasileira ganha novos personagens. Na semana seguinte à publicação da reportagem de capa de VEJA intitulada Livrai-nos do Mal, surgiu uma nova vítima que acusa o padre Pedro Leandro Ricardo de molestá-lo nos tempos em que era seminarista no interior de São Paulo. “Quando eu cursava seminário e tinha 18 anos, o padre Leandro me abraçava e pegava no meu pênis durante a confissão”, lembra V.N.

Nesta semana, duas semanas após a publicação da matéria, outra vítima do padre Leandro relata sua história. VEJA entrevistou o rapaz, na condição de anonimato, para contar o seu caso. L. B., de 35 anos, relembra ter conhecido intimamente o padre Leandro quando tinha 17 anos e atuava como coroinha da Paróquia São Francisco de Assis, localizada no Jardim Ometto, bairro da periferia de Araras, à época sem ruas asfaltadas nem quadras poliesportivas. Eram comuns assaltos, e pontos de venda de drogas funcionavam no local sem que os traficantes fossem importunados. “A Igreja funcionava como nosso único centro de lazer”, lembra a vítima, coroinha desde os 7 anos de idade. “Desde criança, meu sonho era ser padre. Leandro acabou com tudo.” Procurado por VEJA, o advogado Paulo Henrique de Moraes Sarmento, representante do padre Leandro, informou: “o padre reitera sua inocência e diz que confia na Justiça para fins de esclarecimento dos fatos.” A nova vítima deve prestar depoimento à Polícia Civil nas próximas semanas.

Leia a seguir o relato de terror psicológico e abuso: 
Meu sonho era ser padre, a cidade toda sabia disso. Quando foi transferido para Araras, o padre Leandro ficou entusiasmado com a minha vocação – eu e minha família éramos muito ativos na vida da igreja. Ele decidiu apostar em minha carreira sacerdotal. Em um primeiro momento, fiquei feliz. Mas depois a conta começou a chegar.  

Na noite anterior à minha ida ao Seminário Propedêutico Nossa Senhora das Dores, em Limeira, o padre Leandro pediu para eu dormir na casa paroquial. Não estranhei, pois era comum coroinhas dormirem lá, e ele havia sido fundamental para eu conseguir entrar no seminário mesmo com o ano letivo já iniciado. Estar com ele, portanto, era uma forma de agradecimento. O assunto ganhou outro rumo. Ele me disse nessa conversa em privado, em tom de conselho: ‘a vida em seminário tem clima de inquisição e caça às bruxas. Você tem de saber em quem confiar e se apoiar.’ Essas frases foram ditas enquanto ela passava a mão nas minhas pernas. Depois, de forma mais clara, o padre perguntou se eu não queria nada com ele em troca de proteção. Fiquei sem entender e me retirei do quarto. Não houve briga.

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O clérigo Leandro ao lado de L.B.: nova vítima irá prestar depoimento à Polícia Civil (Acervo Pessoal/VEJA)

Já com a vida iniciada no seminário, na cidade de Limeira, quando eu retornava para Araras ele me pedia par dormir na casa paroquial. Também me designava para efetuar funções importantes na vida religiosa. Eu me sentia valorizado. Ao mesmo tempo, tinham questões complexas. Ele pedia para eu ajudá-lo a vestir nele a roupa de padre. Na hora de colocar o cordão em sua cintura, ele fazia de forma que o pênis esbarrasse em minhas mãos. Isso ocorrer inúmeras vezes. O padre Leandro atuava de forma a envolver e chantagear. Ele dizia que eu seria um orgulho para a comunidade, mas teria de ceder e confiar: ‘além de padre, eu sou seu patrão’, ele repetia sempre. Ele tentou me comprar com presentes, eu não aceitava.

Certa vez, na secretaria da paróquia, eu vi documentos sobre dinheiro doado que seria usado para pagar uma viagem à Europa de Diego Rodrigo (padre de Araras e apontado como namorado de anos de Leandro). O padre ficou bravo por eu ter visto o que não devia e, então, começou a fazer da minha vida um martírio – afinal, eu já não cedia às investidas sexuais e agora sabia demais.

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Papa Francisco e Dom Vilson Dias de Oliveira
O bispo dom Vilson Dias de Oliveira com o papa Francisco em 2014: Vilson é acusado de acobertar padres abusadores (Diocese de Limeira/.)

O Padre Leandro passou a me humilhar na frente de todos, na sacristia, na casa paroquia e mais onde podia. Ele me chamava de burro, incompetente, que jamais poderia ser um bom padre. Essa humilhação me machucava demais, meu projeto de vida era ser padre. As humilhações cresceram. Ele me retaliou porque eu não cedi aos seus avanços e vi desmandos na igreja. Os xingamentos me levaram aos ataques de pânico. Teve uma vez em que ajoelhei na sacristia sem conseguir parar se chorar. A humilhação mais pesada se deu em uma Semana Santa. Desde então, toda semana santa, eu tenho crises nervosas.

Apesar de todo esse abuso, em casos de abuso sexual e psicológico, o cérebro precisa de um distanciamento para ser dar conta sobre o que aconteceu conosco. Antes, eu cheguei a defender o Padre – que me expulsou da igreja e me fez desistir do seminário – sobre acusações de assédio. Agora, lendo o relato das outras vítimas, percebo com clareza o que ocorreu comigo (chora). Sei que fui vítima desse monstro nojento.

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