No Fora do Eixo, namorar ‘mulher feia’ é troféu de eficiência
Em texto assinado por quinze dissidentes do grupo liderado por Capilé, há denúncias de sexismo e valorização de quem se "sacrifica" para conquistar e cooptar integrantes consideradas menos atraentes
No grupo Fora do Eixo (FdE), prova de dedicação à causa é atrair e manter relações sexuais com mulheres (consideradas) feias para aumentar o rebanho capitaneado por Pablo Santiago Capilé Mendes. Essa é apenas uma das denúncias de sexismo feitas por um grupo de ex-integrantes do FdE num manifesto divulgado na internet nesta segunda-feira – e que reforçam a série de revelações recentes sobre abusos cometidos pelos seguidores de Capilé.
O novo texto é assinado por quinze dissidentes – dez homens e cinco mulheres – do grupo de Capilé que se dizem afeitos aos ideais feministas e detalham a forma como eles são tratados em cada uma das 25 casas-comunitárias do FdE espalhadas pelo país, onde jovens trabalham para a comunidade em troca de comida e moradia. O manifesto cita a tática “catar e cooptar” – atrair novos integrantes através da sedução – que ganha contornos ainda mais chauvinistas com a revelação do lema repetido pela cúpula do FdE, segundo os ex-integrantes: “Quem pega mulher ‘feia’ ganha mais lastro”, ou seja, é mais valorizado pelos líderes da causa.
Os métodos da casa foram relatados, pela primeira vez, pela ex-estudante de jornalismo Laís Bellini, que abandonou o curso para ser uma “interna” do FdE.
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Estratégia – Para “catar e cooptar”, primeiro é traçado um perfil da pessoa que deve ser aliciada e, em seguida, é feito um plano de ação. “É debatido o perfil do futuro integrante ou colaborador e quais membros teriam afinidade de atraí-lo para iniciar, com ele ou com ela, um relacionamento amoroso e/ou sexual e cooptá-lo(a)”, diz o texto. “Homens e mulheres fazem parte desses artifícios.”
Após ser cooptado, o novo integrante deve ser constantemente vigiado pelo seu agente “cooptador”, que deve controlar as amizades, as conversas e as leituras. Todas essas informações devem ser relatadas à cúpula, que, por sua vez, monitora o casal para que não haja a “contaminação dos dois indivíduos”. A expressão se refere à possibilidade de nascer um relacionamento amoroso entre eles, o que não é bem-visto na comunidade FdE.
A principal reclamação dos dissidentes é que, em razão da divisão das tarefas por gênero, as mulheres acabam por ficar a maior parte do tempo enclausuradas nas repúblicas enquanto os homens têm mais liberdade para sair.
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Histórico – O manifesto dos quinze ex-membros se soma às acusações de usurpação de trabalho de artistas, retenção de cachês, utilização de mão de obra não renumerada e estelionato, que vieram à tona no início de agosto com o depoimento da cineasta Beatriz Singer divulgado em sua página pessoal no Facebook.
Na ocasião, Beatriz desabafou sobre como foi levada a aceitar que seu filme Bollywood Dream – O Sonho Bollywoodiano participasse de festivais promovidos pelo FdE sem que lhe pagassem cachê.