Motivo de comoção pelo mundo, o Museu Nacional começa a se reorganizar após o incêndio que destruiu boa parte de seu acervo no domingo e consumiu o histórico prédio principal, que continua interditado pela Defesa Civil municipal, por causa dos riscos de desabamento na parte interna.
Segundo a vice-diretora da instituição, Cristiana Serejo, museus e instituições científicas do Brasil e de outras partes do mundo estão oferecendo peças para recompor o acervo perdido. Itens do próprio Museu Nacional que estavam cedidos a outras instituições também estão sendo requisitados. Segundo Cristiana, a ajuda internacional seria o ponto de partida para a recuperação do museu. O governo da França já se colocou à disposição para ajudar.
Um dia e meio depois do incêndio, algumas atividades de pesquisa já foram retomadas no Horto Florestal, dentro da própria Quinta da Boa Vista, onde estavam algumas coleções que foram poupadas, como a de vertebrados, invertebrados, botânica, além de uma biblioteca de 500.000 exemplares, que reúne alguns exemplares raros. O acervo do museu reunia mais de 20 milhões de itens.
“Fizemos uma reunião com os funcionários hoje cedo e já estamos nos reorganizando nessa parte do Horto, que comporta mais gente e algumas coleções”, explicou Cristiana. “As pós-graduações estão sendo realocadas lá, o museu está se reorganizando para recuperar a pesquisa.”
Cristiana contou que um fóssil de baleia que já pertencia ao museu deve ser devolvido. Acervos de insetos, por exemplo, foram oferecidos como doação, bem como de peças indígenas. “Vamos manter a pesquisa, o ensino e a extensão”, disse a diretora. “Estamos vivos aqui no museu.”
Algumas poucas peças foram recuperadas dos escombros, como um quadro do marechal Rondon, alguns meteoritos, dois vasos de cerâmica e fragmentos de fósseis humanos.
Os fragmentos de um crânio achados no Departamento de Paleontologia deram esperanças aos pesquisadores de que poderia se tratar de Luzia, o fóssil mais antigo já achado nas Américas, de cerca de 12.000 anos. O fóssil é precioso, porque foi responsável por mudanças significativas nas teorias de ocupação humana do continente. Entretanto, alertou Cristiana, o departamento de paleontologia tinha centenas de fósseis humanos. “A gente não sabe dizer se é o crânio de Luzia, temos que avaliar”, explicou. “Os escombros são muito grandes, especialistas têm que analisar para darmos uma informação correta. Mas, claro, sempre temos esperança.”
A vice-diretora explicou ainda que uma empresa especializada deve ser contratada para ajudar no trabalho de arqueologia que deverá ser feito para a busca de peças em meio aos escombros do incêndio. “É um trabalho de arqueologia, não é algo que possa ser feito com uma escavadeira”, lembrou.
Investigação
Militares fazem a segurança na Quinta da Boa Vista e traçaram um cerco nos arredores do Museu Nacional para impedir eventuais saques aos escombros do incêndio. Técnicos da Polícia Federal também estiveram vistoriando os escombros em busca de dados que possam determinar as causas do incêndio. O Museu Nacional do Rio de Janeiro não contava com brigada de incêndio nem com seguro para o acervo.
(Com Estadão Conteúdo)