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Incêndios em Mato Grosso do Sul aumentam 74% com relação a 2019

Esta é a seca mais intensa a atingir o Pantanal em pelo menos 60 anos

Por Agência Brasil Atualizado em 17 ago 2020, 23h34 - Publicado em 17 ago 2020, 23h28
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  • Dados compilados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelam que o número de focos de queimadas e incêndio registrados em Mato Grosso do Sul já é 74% superior ao total verificado no mesmo período de 2019, o que obrigou o governo estadual a decretar situação de emergência ambiental no Pantanal.

    De 1º de janeiro até 16 de agosto, o satélite de referência (Aqua_M-T) acumulou sinais de 5.959 focos de calor em território sul-mato-grossense. No mesmo período de 2019 foram registrados 3.415 ocorrências. No ano passado, considerados os mesmos sete meses e meio, o estado já tinha registrado o resultado mais preocupante desde 2016: uma variação da ordem de 239% se comparados aos 1.006 focos de incêndios e queimadas identificados entre 1º janeiro e 16 de agosto de 2018.

    Já em Mato Grosso, o número de ocorrências se mantém praticamente estável em comparação ao ano passado. Imagens de satélite registradas entre 1º de janeiro e 16 de agosto apontam a existência de um total de 13.238 focos de incêndios e queimadas. No mesmo período de 2019 foram registrados 13.225 ocorrências. O resultado anterior, no entanto, representou um acréscimo de 85% sobre os 7.149 focos identificados do começo de 2018 a meados de agosto, sendo o pior resultado do estado nos últimos cinco anos, tendo interrompido dois períodos sucessivos de queda dos números.

    Preocupante, a situação dos dois estados da região Centro-Oeste chamam a atenção principalmente pelas chamas que consomem a vegetação do Pantanal, colocando em risco a vida de animais, inclusive de espécies em extinção, e de moradores da região.

    Apesar disso, o maior aumento do número de registros de focos de incêndio e queimadas ocorreu em Santa Catarina, na Região Sul. Enquanto de janeiro a meados de agosto de 2019 o satélite Aqua_M-T acumulou 889 ocorrências, no mesmo período deste ano foram 1.615, ou 82% a mais.

    Veja a variação do número de incêndios por estado.

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    (Inpe/Divulgação)

    Pior seca

    Comparando os registros históricos de temperatura e chuvas, técnicos do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) concluíram que esta é a seca mais intensa a atingir o Pantanal em pelo menos 60 anos.

    O Cemaden aponta que, no primeiro semestre deste ano – antes, portanto, que a situação se agravasse com o fim do período de chuvas na região Centro-Oeste – as queimadas e incêndios florestais atingiram áreas do Pantanal que, somadas, totalizam mais de 2,8 mil quilômetros quadrados (km²), o que corresponde a quase 90% dos cerca de 3.266 km² territoriais ocupados pela capital de Mato Grosso, Cuiabá.

    De acordo com os especialistas do centro vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, as chamas destruíram a flora e expulsaram ou mataram espécies animais em áreas protegidas incluídas na Lista de Zonas Úmidas de Importância Internacional (ou Lista de Ramsar, em alusão à cidade iraniana de Ramsar, onde, em 1971, ocorreu a Convenção sobre Zonas Úmidas de Importância Internacional, da qual o Brasil é signatário), bem como em territórios indígenas

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    “Apesar da vegetação ter adaptações para resistir ao fogo, os extremos da seca e a recorrência das queimadas têm impactos na biodiversidade florística e na fauna, além dos impactos da fumaça para a saúde humana”, aponta o Cemaden em seu informe.

    Segundo o centro, a partir de junho, o número de focos de calor aumentou mais de dez vezes em comparação aos meses anteriores. O que impacta também a produção agrícola. Municípios como Jaciara, Nossa Senhora do Livramento e Santo Antônio do Leverger já tiveram entre 60% e 80% de suas áreas agro produtivas afetadas pela seca, de acordo com os técnicos do Cemaden.

    Adversidades

    Para Angelo Rabelo, presidente do Instituto Homem Pantaneiro, uma organização não-governamental (ONG) que atua para a preservação do bioma em parceria com órgãos públicos e empresas privadas, a situação no Pantanal é “bastante adversa”.

    “Em Mato Grosso do Sul, os focos de incêndio continuam intensos, mas em Mato Grosso a situação é ainda mais complicada”, contou Rabelo, que é ex-comandante da Polícia Ambiental do Mato Grosso do Sul.

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    Rabelo diz que uma das áreas mais afetadas em Mato Grosso do Sul fica próxima a Corumbá, onde, segundo ele, foram registrados mais de 2 mil focos de incêndio e queimadas. “Muitas áreas que estavam sem nenhuma atividade pecuária permitiram que o fogo avançasse de forma contínua a partir de abril”, acrescentou o ex-comandante da Polícia Ambiental de Mato Grosso do Sul, fazendo coro a produtores rurais que sustentam que a criação de unidades de conservação em áreas próximas à Corumbá onde antes havia criação de gado, e a consequente proibição da utilização destas terras para pasto, acaba por facilitar a propagação do fogo pela vegetação na época da seca.

    Ainda de acordo com Rabelo, brigadistas, militares das Forças Armadas e voluntários tentam apagar o fogo, mas além da vegetação seca, se deparam com obstáculos impostos pela dificuldade de acesso a muitos dos pontos em chama. Helicópteros têm sido empregados não só para transportar as equipes até os locais de trabalho, como para despejar sobre as chamas a água captada em rios próximos.

    “Nem mesmo por água é possível acessar muitos destes lugares. Esperamos que, até o fim da semana, tenhamos uma ajuda determinante, que seria a chuva, pois a umidade do ar já aumentou e há indicativos de chuvas”, acrescentou o presidente da ONG.

    Emergência ambiental

    No fim de julho, o governo de Mato Grosso do Sul decretou situação de emergência ambiental na área do Pantanal sul-mato-grossense por 180 dias. Além disso, suspendeu as autorizações ambientais de queima controlada pelo mesmo período, e solicitou apoio federal para combater os focos de calor.

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    Em resposta ao pedido de auxílio estadual, o Ministério da Defesa deflagrou, no dia 25 de julho, a chamada Operação Pantanal. Coordenada pelo Comando do 6º Distrito Naval, a ação conta com a participação de cerca de 400 profissionais, entre militares das Forças Armadas aptos a enfrentar incêndios florestais; do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama); Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio); bombeiros de Mato Grosso do Sul e do Mato Grosso, além de brigadistas e voluntários.

    Em nota divulgada nesta segunda-feira, 17, o Comando do 6º Distrito Naval relatou que no início da operação havia 21 pontos de incêndio no Pantanal sul-mato-grossense. “Ao longo dos trabalhos, os índices iniciais foram ultrapassados, passando para o total de 32 pontos. Após três semanas de atividades, os pontos de queimadas foram controlados e, no momento, não há registros de fogo aparente na região. As ações foram então estendidas à porção do Pantanal em Mato Grosso, no dia 6 de agosto, e prosseguem, apresentando, como resultado, uma redução dos pontos [iniciais] de incêndios”, sustenta a organização, destacando que “há quase um mês as equipes estão trabalhando diante desse cenário, sem registro de incidentes relevantes ou a perda de vidas humanas.”

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