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Filial paraguaia

Facção criminosa avança no controle do sistema penitenciário do país vizinho, que reage acelerando o processo de expulsão sumária dos bandidos brasileiros

Por Eduardo Gonçalves Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 ago 2019, 08h52 - Publicado em 30 ago 2019, 07h40

Bandidos organizados controlam atividades como o tráfico de drogas e dominam os presídios, ordenando de tempos em tempos massacres de outras facções, em uma escalada de crueldade cada vez maior. Parece o Brasil, mas é o Paraguai, para onde o Primeiro Comando da Capital (PCC) estendeu seus braços nos últimos tempos. Em uma das confusões mais recentes provocadas pelo grupo no país vizinho, dez detentos acabaram mortos em 16 de junho na cadeia de San Pedro de Ycuamandiyú, a 250 quilômetros da fronteira com Mato Grosso do Sul. Cinco foram decapitados e três tiveram o corpo queimado. Execuções do tipo, dignas de filmes de terror, representavam uma novidade por lá — até a chegada dos criminosos brasileiros com seus métodos. Em 14 de agosto, o Ministério Público paraguaio concluiu que 28 membros do PCC haviam planejado a carnificina de San Pedro. “Eles queriam mandar uma mensagem clara de demonstração de força para uma gangue rival”, disse a VEJA a procuradora Alicia Sapriza, que integra uma força-tarefa contra o crime organizado no país.

Um dos maiores produtores de maconha do mundo e rota da cocaína produzida nas nações andinas, o Paraguai é um país-chave no tabuleiro do tráfico de drogas. Um dos passos fundamentais para entrar nesse jogo implica controlar as cadeias, o que garante por tabela domínio sobre o crime local. O PCC aprendeu essa lição por aqui e agora replica na nação vizinha o seu, digamos, modelo de negócios. A facção tem feito uma campanha agressiva de filiação de novos membros. Dos 28 denunciados pelo MP, apenas cinco eram brasileiros. Folhas de papel encontradas nas celas de San Pedro obtidas por VEJA mostram anotações com a contagem de “irmãos” em presídios paraguaios e planos de expansão. Em aplicativos de mensagem, a procuradoria descobriu até uma versão do estatuto do PCC em espanhol, que prega “la unión” de todos os presos na “lucha contra la injusticia y la opresión”.

O governo do país estima que haja atualmente cerca de 400 membros da facção em seus presídios. Para se ter uma ideia, é mais que o dobro dos integrantes que se encontram hoje encarcerados em penitenciárias federais brasileiras (160). O Paraguai não estava preparado para esse produto de exportação brasileiro. Em 21 de agosto, presos do PCC impediram uma vistoria no pavilhão 5 da cadeia de Tacumbú. De posse das chaves e dos cadeados do local, eles não autorizaram a entrada dos policiais, que desistiram da operação em face da ameaça de motim. Um mês antes, o mesmo pavilhão fora alvo de inspeção, quando foi descoberto ali um verdadeiro laboratório de drogas em pleno funcionamento, com centenas de pinos de cocaína, pacotes de maconha e crack e pílulas de ecstasy ao lado de balanças de precisão.

LIDERANÇA - Ximenes, o Matrix: capturado em plantação de maconha (Policia Nacional/Divulgação)

Diante da expansão do problema para o país vizinho, o termo PCC começou a aparecer em telegramas trocados entre a embaixada brasileira em Assunção e a sede do Itamaraty em Brasília. No fim do ano passado, o então embaixador Carlos Magalhães escreveu a respeito da preocupação dos paraguaios de que o discurso do governo Bolsonaro sobre o “combate frontal à criminalidade” pudesse “empurrar” o crime organizado para dentro do território paraguaio.

Para lidar com a situação, o governo local estuda a construção de presídios de segurança máxima e fala em criar um braço específico do Judiciário para julgar membros de facções criminosas. Como medida mais imediata, vem acelerando o processo de devolução sumária dos criminosos. Pelos cálculos do governo paraguaio, já foram deportados cerca de noventa brasileiros desde agosto de 2018 até agora. Um deles foi Thiago Ximenes, o Matrix. Condenado a vinte anos por sequestro de um comerciante, tráfico de armas e assalto a um carro-forte, ele escapou pela porta da frente da sede do Agrupamento Especializado da Polícia Nacional em dezembro. Na ocasião, dezoito policiais paraguaios foram presos por suspeita de cumplicidade. Em março, Matrix acabou sendo recapturado em meio a plantações de maconha em Villa Ygatimí e devolvido ao Brasil. Mas a dor de cabeça com a invasão do PCC está longe de terminar.

Publicado em VEJA de 4 de setembro de 2019, edição nº 2650

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