Nem sempre o aviso para apertar os cintos aparece a tempo de evitar uma tragédia. No domingo, fortes turbulências durante um voo da Continental Airlines deixaram pelo menos 26 pessoas feridas, sendo quatro delas em estado grave. De acordo com o corpo de bombeiros do condado de Miami-Dade, o avião, que saiu do Rio de Janeiro na noite de domingo, com destino a Houston, no Texas, tinha 168 pessoas a bordo.
“Esse tipo de acidente é bem incomum. As pessoas que se ferem normalmente não estão usando cinto de segurança”, comenta Carlos Camacho diretor de segurança de voo do Sindicato Nacional dos Aeronautas. Segundo a Federal Aviation Administration (FAA), nos Estados Unidos, a cada ano, aproximadamente 58 pessoas sofrem ferimentos devido à turbulências por não estarem com o cinto de segurança. Ainda de acordo com a FAA, de 1980 a junho de 2004 foram registrados 198 acidentes com turbulência nos EUA, causando 266 ferimentos graves e três óbitos.
Apesar de não serem comuns, acidentes como esse têm aparecido cada vez mais nos últimos tempos. O último que teve repercussão no Brasil foi com um avião da TAM, vindo de Miami, que deixou 21 pessoas feridas. Para Carlos Camacho, esses incidentes têm acontecido com mais frequência nos últimos tempos porque os aviões estão voando cada vez mais alto e enfrentando cada vez mais as condições atmosféricas. “Eles estão voando mais alto porque é mais econômico. O nível de consumo de combustível é muito menor e atualmente o combustível incide um alto custo para as empresas”, disse.
Em relação aos procedimentos em voo, Camacho explica que “muitos pilotos retardam o aviso de apertar os cintos porque não avaliam a intensidade da turbulência”. “Às vezes você pensa que é uma muito forte e não vem nada. Ou pode ser o contrário. Os radares têm a capacidade de enganar e não existe a precisão absoluta”, completa. Segundo um estudo publicado em 1998 pela Flight Safety Foundation, cerca de 10.000 pessoas no mundo todo sofrem ferimentos por conta de queda de bagagens provocadas por turbulências por ano.
Comissários – Os mais prejudicados durante uma turbulência são os comissários. De acordo com um estudo realizado pelo Turbulence Joint Safety Analysis Team (JSAT), a chance de que os comissários se machuquem em turbulências é 26 vezes maior do que as possibilidades que um passageiro tem que o mesmo ocorra.
“Conheço casos de passageiros que tiveram que usar muita força para segurar uma comissária”, contou Camacho. “A lei exige que o aviso de apertar os cintos deve ser cumprido. Mas em muitas empresas existe uma tolerância em que a ordem não vale para os funcionários, que continuam de pé servindo os passageiros”, afirmou Camacho. “Se houver turbulência grave, em baixas altitudes, podemos ter vítimas fatais”, finalizou.