Mais cinco policiais estão sendo investigados por ligação com o suposto esquadrão de extermínio da Região do Vale do Aço, em Minas Gerais. Os novos suspeitos são dois policiais militares e três agentes da Polícia Civil mineira. Pelo menos 25 execuções foram atribuídas ao grupo. Entre as possíveis vítimas da organização criminosa estão o jornalista e radialista Rodrigo Neto, de 28 anos, morto em 8 de março, em Ipatinga, e o fotógrafo Walgney Carvalho, de 43, assassinado em 14 de abril, em Coronel Fabriciano. Quatro delegados, 11 investigadores e três escrivães, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), da Corregedoria e do setor de inteligência de Polícia Civil compõem a força-tarefa criada para investigar as mortes.
Desde que os trabalhos policiais começaram já foram presos seis suspeitos: quatro investigadores, o médico-legista José Rafael Americano e o soldado da PM Vitor Emanuel Miranda de Andrade, lotado em Lavras, no Sul de Minas. Apenas José Americano foi solto, depois de a Polícia Civil ter descartado o envolvimento dele com o esquadrão de morte. O chefe da Polícia Civil de Minas Gerais, delegado Cylton Brandão, não confirmou o número de policiais que estão sob investigação, mas afirmou que novas prisões vão ocorrer em breve. “É um trabalho sigiloso e por isso não podemos falar quantas pessoas ainda estão sendo investigadas. Mas posso garantir que teremos mais prisões”, disse.
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Brandão informou que o problema na Região do Vale do Aço, relacionado com os assassinatos sem elucidação, é antigo e vinha se agravando nas últimas décadas. Para dar uma resposta à sociedade, após apelos de entidades públicas e dos jornalistas que cobraram investigações rigorosas das mortes de Neto e Carvalho, na semana passada Brandão se reuniu com a força-tarefa enviada a Ipatinga. Ele ainda anunciou a mudança no comando da Delegacia Regional do município, afastando dois chefes de departamentos, os delegados Walter Felisberto e José Walter da Mota.
Denúncias – O jornalista Rodrigo Neto fez uma série de denuncias atribuindo as mortes na Região do Vale do Aço a um grupo de extermínio – como a chacinas ocorrida na localidade de Revés de Belém, no distrito da Caratinga, próximo a Ipatinga, em 30 de outubro de 2011. As vítimas, quatro adolescentes, com idade entre 15 e 17 anos. Os corpos dos menores foram encontrados em uma estrada de terra. Eles estavam nus e com perfurações de tiros na nuca.
Os quatro adolescentes haviam sido apreendidos pela Polícia Militar com pedras de crack e porções de maconha um dia antes de desaparecerem. Ao serem liberados do distrito policial, teriam atirado pedras numa viatura e por isso foram capturados e acabaram mortos.
O deputado federal Durval Ângelo (PT) e presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) disse que o grupo criminoso atuava impunemente, porque vinha contando com a proteção das forças de segurança pública e da Justiça da região. “Os casos levavam anos para serem apurados. O inquérito era concluído e seguia para o Ministério Público, que fazia a denuncia. O problema é que a Justiça estava comprometida e não concedia mandados de prisão requisitados pelo MP”, afirmou.
A equipe policial mobilizada para apurar as mortes na região está analisando um total de 14 inquéritos criminais, incluindo a chacina dos adolescentes e os assassinatos dos dois jornalistas. O delegado Wagner Pinto, chefe do DHPP, disse que não poderia dar detalhes sobre as investigações, mas informou que das 23 pessoas assassinadas, a maioria estava vinculada a crimes. “A Polícia Civil não investiga pessoas, investiga fatos, é pelos fatos que chegamos às pessoas. Se ficar comprovado o envolvimento de policiais, eles serão indiciados e responder pelo crime”, afirmou o delegado.
Os investigadores José Cassiano Ferreira Guarda, Leonardo Correa, Ronaldo de Oliveira Andrade, e Gini Cassiano, da 1ª Delegacia Regional de Ipatinga, e o soldado Vitor de Andrade estão presos na Casa de Custódia, no Bairro Horto, na Região Leste de BH. Andrade e Cassiano se entregaram ontem à tarde no DHPP e foram ouvidos pelo delegado Wagner Pinto.
No dia 19, a Procuradoria-Geral de Justiça publicou a portaria que designava promotores de Justiça para acompanhar os inquéritos policiais em Ipatinga. Os designados foram: Nívia Mônica da Silva, coordenadora do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Defesa dos Direitos Humanos e de Apoio Comunitário; Rodrigo Gonçalves Fonte Boa, da Comarca de Belo Horizonte; Juliana da Silva Pinto, da Comarca de Coronel Fabriciano; Bruno César Medeiros Jardini, da Comarca de Ipatinga; e Kepler Cota Cavalcante Silva, da Comarca de Timóteo.
O Ministério Público informou que os promotores de Justiça não poderão se manifestar fora dos autos enquanto as investigações, que correm sob sigilo, não forem concluídas.