A babá Thayna de Oliveira Ferreira, que cuidava do menino Henry Borel, 4 anos, prestou novo depoimento à 16ª Delegacia de Polícia do Rio de Janeiro, na Barra da Tijuca, Zona Oeste da cidade, e modificou suas declarações dadas anteriormente, nas quais descreveu uma suposta relação “harmoniosa” na casa em que a criança vivia com a mãe, Monique Medeiros, 33, e o padrasto, o vereador Jairo Santos Souza Junior, o Dr. Jairinho. De acordo com seu relato, dado até o começo da madrugada desta terça-feira, 13, na unidade policial, Henry foi trancado no quarto do casal e de lá saiu machucado em pelo menos três ocasiões, todas elas presenciadas ao longo do mês de fevereiro. O menino foi assassinado por espancamento na madrugada de 8 de março no apartamento em que os três moravam, também na Barra da Tijuca. Monique e Jairinho foram presos na quinta-feira, 8, e vão responder por homicídio duplamente qualificado e tortura. A babá também informou a avó materna da criança, Rosângela Medeiros Costa e Silva, sobre um dos espancamentos.
De acordo com o depoimento, a que VEJA teve acesso, no dia 12 de fevereiro – quando narrou uma sessão de tortura em tempo real para a mãe de Henry – Monique pediu para falar com o garotinho pelo celular. Na ligação, Henry contou à mãe todas as agressões sofridas. Monique teria pego a criança e algumas malas, que estavam prontas em razão de uma viagem que fariam no Carnaval com Dr. Jairinho, e dito que iria para a casa dos pais em Bangu, na Zona Oeste do Rio.
No dia seguinte, contudo, a babá viu um stories de Monique no Instagram em que ela e o vereador estavam juntos em Mangaratiba, no litoral fluminense. Também no dia 13 de fevereiro, Monique levou Henry a um hospital porque ele estava mancando em decorrência das agressões – aos médicos, a mãe alegou que o filho havia “caído da cama”.
Jairinho também pressionou Henry após Thayna relatar as agressões a Monique. Segundo o depoimento, “JAIRINHO retornou ao apartamento, visivelmente exaltado, questionando o menino “HENRY, O QUE FALOU PRA SUA MÃE”, “VOCÊ GOSTA DE VER SUA MÃE TRISTE COM O TIO?”, “VOCÊ MENTIU PRA SUA MÃE?”, Que HENRY, que estava no colo da declarante, respondia, acuado, que não havia falado nada, que não havia feito nada; Que então, JAIRINHO passou a perguntar à declarante “ELE LIGOU? O QUE VOCÊS FALARAM?”.
Na semana seguinte, Thayna disse que relatou todas as agressões à avó materna de Henry, Rosangela Medeiros Costa e Silva, que “ficou assustada e ficou indagando para saber se HENRY estava ou não mentindo”. A avó, que também prestou depoimento na delegacia, não mencionou o episódio em suas declarações.
A babá relatou ainda que as brigas entre Monique e Dr. Jairinho eram recorrentes, que ambos ameaçavam fazer as malas e deixar a casa, mas que se reconciliavam rapidamente.
Ela disse que mentiu no primeiro depoimento após ser coagida por Monique e pelo advogado André França Barreto, que deixou a defesa do casal ontem, no escritório dele, localizado no Centro do Rio. Na ocasião, ela apagou todas as mensagens de celular trocadas com Monique e Dr. Jairinho a pedido da mãe de Henry. O advogado, segundo o depoimento, iniciou a conversa falando de Deus, “que era católico como a declarante” e perguntou “se a declarante colocava a “mão no fogo” por JAIRINHO e MONIQUE; Que a declarante falou que não, que só colocaria a “mão no fogo” por ela própria; Que, então, Dr. ANDRE falou que não poderia ser assim, que ela, por acreditar em Deus, tinha que falar “para o mundo” o quão pessoas boas eram MONIQUE e JAIRINHO”.
Dias antes o primeiro depoimento, a irmã de Jairinho, Thalita, a chamou em sua casa e “disse para a declarante não ser JUÍZA DO CASO DO IRMÃO DELA, que “MENOS É MAIS”, dando a entender que não era para a declarante falar tudo que sabia, que todos já estavam sofrendo muito”. Em seguida, Thalita teria perguntado se a babá mantinha arquivos de conversas em seu celular e orientado a apagá-los em caso positivo.
Perguntada sobre a razão de ter mentido em seu primeiro depoimento, Thayna respondeu que “mentiu por medo, já que, por ter visto o que JAIRINHO tinha feito contra uma criança, ficou com medo que algo também pudesse acontecer com ela própria”. A babá disse ter medo também porque a mãe, Helena, ainda trabalha para a família do vereador na casa do pai, o ex-deputado Coronel Jairo. Ela também contou à polícia que Jairinho conseguiu empregos na Prefeitura do Rio para parentes e que um deles é assessor do parlamentar. Thayna relatou que trabalhou na campanha eleitoral do político em 2020.
Quando soube da morte de Henry pelas lesões, prosseguiu, associou às agressões que Dr. Jairinho cometia contra a o menino.
Outras duas agressões
Thayna disse que todos os episódios de agressão ocorriam no quarto do casal com a porta trancada. Era um método silencioso, uma vez que quase não se ouviam barulhos.
O primeiro teria ocorrido em 2 de fevereiro entre 6h e 7h, quando Monique estava no futevôlei. Henry teria começado a chamar pela mãe de seu quarto. Jairinho foi até lá, chamou a criança de “mimada” e ordenou que ela viesse com ele até o quarto do casal, onde ele permaneceu com o garotinho por cerca de 30 minutos. Depois que os dois saíram do cômodo, a babá disse que perguntou a Henry o que havia acontecido e a criança lhe respondeu que “tinha esquecido, que estava com soninho”. A cuidadora teria insistido, mas Henry seguiu respondendo que havia esquecido. No mesmo dia, à tarde, a criança reclamou de uma dor no joelho e que, devido a isso, não queria brincar com as outras crianças na brinquedoteca do prédio.
A outra agressão teria ocorrido na última semana de fevereiro quando, excepcionalmente, Dr. Jairinho chegou cedo do trabalho e só ela e a criança estavam em casa – Monique estava na academia de ginástica. Assim que chegou, Jairinho chamou a criança para o quarto do casal, e a criança obedeceu. Novamente, a porta estava trancada. A babá foi atrás da criança, chamou e ninguém respondeu. Cerca de três minutos depois, a porta se abriu, e Thayna perguntou ao menino o que havia acontecido. Henry relutou em responder, mas em seguida disse que havia “caído da cama”. À polícia a cuidadora declarou que o menino estava “visivelmente intimidado”, mas contou que estava com a cabeça doendo e que tinha uma marca roxa no seu braço.