Datas: Maurizio Pollini e Richard Serra
As despedidas que marcaram a semana e a fiança de Daniel Alves
O começo foi espantoso: em 1960, o pianista italiano Maurizio Pollini ganhou o Concurso Chopin de Varsóvia, na Polônia, um dos mais cobiçados do mundo. O presidente do júri, Arthur Rubinstein, lenda do teclado, saiu das audições espantado com a habilidade e a alma daquele jovem de 18 anos — e não demorou a apontá-lo como gênio. Para sorte da humanidade, é possível ouvir no Spotify e em outras plataformas aquela gravação original do Concerto Nº 1 de Chopin. É espantoso, misto de emoção e rigidez em porções equivalentes.
Cuidadoso com os compositores que decidia enfrentar — além de Chopin, eternizou obras de Beethoven, Schumann e Stockhausen —, Pollini foi sempre reverenciado pelo cuidado com que estudava as composições. “Ele tem uma consideração ética pela música”, disse dele, certa vez, o maestro e também pianista Daniel Barenboim. Para o ensaísta Edward Said (1935-2003), Pollini tinha técnica tão apurada que era capaz de escondê-la aos olhos das plateias ou em gravações, artista que não apelava para “uma facilidade simplista nem exibia um tedioso esforço heroico”. Ele morreu em 23 de março, aos 82 anos, em Milão, na Itália.
Quanto vale um estupro?
Preso há 14 meses na penitenciária Brians 2, em Barcelona, o jogador de futebol Daniel Alves pagou na segunda-feira 25 a fiança de 1 milhão de euros, o equivalente a 5,4 milhões de reais, e deixou a cadeia. O dinheiro foi conseguido com empréstimos e adiantamento de valores que tem a receber do fisco espanhol. Ele foi condenado a quatro anos e meio de detenção, acusado de agressão sexual contra uma mulher de 23 anos, em uma boate de luxo da capital catalã. Daniel acompanhará o andamento dos recursos em liberdade provisória, mas com algumas condições: deverá se apresentar todas as sextas-feiras para as autoridades; teve seus passaportes brasileiro e espanhol apreendidos e, naturalmente, não poderá deixar a cidade.
O poeta do ferro
O escultor californiano Richard Serra parecia transportar para os século XX e XXI, o nosso tempo, a grandeza de monumentos da Antiguidade ou das pedras místicas de Stonehenge, na Inglaterra. A imensidão de suas obras, feitas de círculos, elipses e rampas de aço e ferro, revela quão pequenos somos diante da vastidão do mundo. Ele dizia que seu trabalho exigia o “caminhar e olhar”, dada a grandeza arquitetônica de peças que brotam como edifícios. No Brasil, um de seus trabalhos, a escultura Echo, composta de duas chapas de 18 metros de altura, pode ser vista no IMS de São Paulo, na Avenida Paulista. Ele morreu em 26 de março, aos 85 anos, de pneumonia, em Long Island, no estado de Nova York.
Publicado em VEJA de 29 de março de 2024, edição nº 2886