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Datas: Eder Jofre e Sacheen Littlefeather

O ídolo do boxe e a ativista apache americana

Por Da Redação Atualizado em 4 jun 2024, 11h50 - Publicado em 7 out 2022, 06h00

Instado a citar alguns de seus ídolos no boxe, o peso-pesado americano Mike Tyson sempre listou um punhado de americanos — e Eder Jofre. “Quando penso no Brasil, penso em Jofre”, disse mais de uma vez. “Adorava sua agressividade no ringue.” Nos anos 1960, a mais respeitada revista da modalidade, The Ring, o pôs no nono lugar de um rol dos maiores boxeadores da história, em qualquer categoria. “Posso dizer, sem medo de estar errado, que nunca houve pugilista como ele abaixo da Linha do Equador”, disse Dan Cuoco, diretor da Organização Internacional de Pesquisas do Boxe, sediada nos Estados Unidos, em afirmação que soou como anátema para os argentinos.

De canhota implacável e rapidíssima, desferia socos no tronco do adversário para abrir espaço na cabeça, e golpes na cabeça para abrir brechas no tronco — uma decisão estratégica aparentemente simples, mas que somente gênios do esporte como ele eram capazes de fazer funcionar com elegância. Foi campeão mundial em duas categorias, galo e pena. Entre os galos há unanimidade: foi o maior de todos. Parecia bailar, com inigualável leveza, entre as cordas. De acordo com os especialistas, uma luta — entre as 81 que disputou, com 75 vitórias (cinquenta nocautes), quatro empates e só duas derrotas, ambas para o japonês Fighting Harada, em Tóquio, por pontos — deve ser tratada como uma obra-­prima, a essência da chamada “nobre arte”. Foi a vitória por nocaute no décimo assalto contra o mexicano Joe Medel, em Los Angeles, em 1960, pouco antes de ganhar seu primeiro título mundial (há trechos dela no YouTube, e são hipnóticos).

Em 2014, reportagem de VEJA revelou que Jofre sofria de encefalopatia traumática crônica — mal deflagrado depois de concussões repetidas na cabeça e associado ao boxe desde a década de 20 — e não de Alzheimer, como se supunha. Mudou o tratamento, chegou a ser tratado com canabidiol, mas já não tinha, é natural, a vivacidade alimentada pelo raciocínio rápido como seus golpes. No auge, seu corpo obedecia com exatidão às ordens emanadas do cérebro, uma sinfonia química e elétrica que fazia dele no ringue uma casamata de músculos contraídos de onde surgiam sem aviso punhos rápidos como o raio e duros como o aço. Em Jofre se combinaram admiravelmente a habilidade, a velocidade, a força, o sacrifício, o coração, a inteligência e os reflexos, qualidades que fazem do boxe, se não a única maneira civilizada de liberar a violência inata do homem, com certeza a forma esportiva mais pura de atender ao instinto de domínio sobre o outro. Morreu aos 86 anos, em 2 de outubro, em decorrência de uma pneumonia e sepse generalizada — estava internado em uma clínica de São Paulo havia seis meses.

Cena de cinema

PROTESTO - A apache Sacheen Littlefeather no Oscar de 1973: no lugar de Marlon Brando, o melhor ator -
PROTESTO - A apache Sacheen Littlefeather no Oscar de 1973: no lugar de Marlon Brando, o melhor ator – (Bettmann/Getty Images)

Em março de 1973, a ativista apache americana Sacheen Littlefeather, aos 26 anos, subiu ao palco na cerimônia do Oscar para receber a estatueta de melhor ator em nome de Marlon Brando, o Don Corleone de O Poderoso Chefão. “Ele me pediu para fazer um longo discurso, que não consigo fazer em razão do tempo, mas poderei entregá-lo à imprensa depois”, disse. “Ele lamentavelmente não pode aceitar esse prêmio tão generoso. E a razão para isso é o tratamento dos indígenas americanos hoje pela indústria cinematográfica.” Foram sessenta segundos intermináveis. Littlefeather foi quase escorraçada, o ator e diretor John Wayne por pouco não a agrediu — foi tudo demasiadamente agressivo, no primeiro protesto político da engessada festa do cinema. No início deste ano, depois de quase cinquenta anos, finalmente a Academia pediu desculpas a Littlefeather. Ela morreu em 2 de outubro, aos 75 anos, em Novato, na Califórnia, de causas não reveladas.

Publicado em VEJA de 12 de outubro de 2022, edição nº 2810

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