Um documento produzido pela embaixada do Brasil no México a partir de informações confidenciais de autoridades mexicanas e de colaboradores em nações fornecedoras de cocaína traçou um raio-X do rápido avanço de dois dos mais violentos cartéis mexicanos de drogas do mundo e acendeu o sinal de alerta em autoridades brasileiras. As conclusões do levantamento, a que VEJA teve acesso, mostram que os cartéis de Sinaloa, cujo mais famoso chefe, ‘El Chapo’ Guzmán, cumpre prisão perpétua nos Estados Unidos, e o Jalisco Nueva Generación (CJNG), atualmente o maior grupo criminoso do país latino, têm ocupado posições estratégicas na fronteira brasileira e há pelo menos quatro anos têm uma “parceria de conveniência” com a maior facção do país, o Primeiro Comando da Capital (PCC).
Segundo unidades de inteligência do governo mexicano informaram ao Brasil, pelo menos desde 2018 os dois cartéis começaram a estabelecer “conexões concretas” com o PCC por meio de contatos construídos pelo traficante Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, braço direito do líder do PCC Marco Wilians Herbas Camacho, o Marcola. Fuminho foi preso em Moçambique em abril de 2020 e hoje está detido no presídio de segurança máxima de Catanduvas (PR).
O objetivo da parceria entre os narcos mexicanos e a facção brasileira ainda não está totalmente desvendado. A Polícia Federal diz que os mexicanos não têm bases montadas em território nacional, mas os contatos com o PCC, acreditam investigadores, podem pavimentar futuras transações comerciais, novas rotas de transporte da droga e alianças para lavagem de dinheiro. Em todo o ano passado, a PF fez 63 operações para combater facções e organizações criminosas ligadas ao tráfico e que atuam nas fronteiras brasileiras, prendeu 229 pessoas e confiscou 76,7 milhões de reais.
Conforme mostrou VEJA, os cartéis têm se aproveitado também de fragilidades governamentais na Venezuela e no Peru para avançar sobre a América do Sul. Um dos relatórios produzidos pela embaixada afirma que os grupos criminosos têm se beneficiado da deliberada baixa fiscalização contra o narcotráfico no governo do venezuelano Nicolás Maduro e do abandono de políticas de destruição de plantações de coca na administração peruana de Pedro Castillo, cujos integrantes chegaram a defender publicamente o banimento da DEA, o Departamento Antinarcóticos dos Estados Unidos, do país.