Natural de Lins, no interior paulista, Caleb Guerra vive há um ano e meio em Wuhan, onde foi estudar literatura clássica chinesa. O estudante, de 28 anos, foi surpreendido pela epidemia do coronavírus, que já matou 81 pessoas e infectou outras 2.744 no país asiático. Ao site de VEJA, relata que o surto acentuou a calmaria, típica desta época do ano devido ao Ano Novo chinês, celebrado no último dia 25. “As ruas estão vazias, os shoppings fechados. Os cinemas não funcionam. As pessoas, incluindo os turistas, não têm lugar para sair”, diz. No supermercado, onde foi no último sábado, conta que teve dificuldades para comprar produtos frescos, como frutas e vegetais. “Ou não havia ou as filas estavam enormes.”
A ausência do transporte público e a restrição do tráfego de carros, desde o último sábado, 25, motivou Guerra ir às compras para não sofrer o risco de desabastecimento de itens básicos, como água e alimentos. Para itens industrializados, não encontrou dificuldades. O paulista divide um apartamento com um colega chinês, e conta com outros compatriotas brasileiros, que moram em residências universitárias, têm recebido assistência das instituições, com o oferecimento de café-da-manhã, almoço e janta. Além das universidades, conta que a Embaixada do Brasil na China também tem atuado. “Há uma representante brasileira em diálogo com o governo chinês, e prepara uma lista de pessoas que querem deixar a cidade.”
Apesar das dificuldades, Guerra pondera que o cenário não é apocalíptico, “por enquanto”, e que tem expectativas de que a situação melhore. “No momento, o sentimento é de indecisão. Pretendo esperar, ao menos as próximas duas semanas, para ver como a situação da epidemia evolui, se haverá vacina, ou se melhora. E também quando as aulas serão retomadas”, conta. No momento, deixar a cidade não é uma possibilidade, já que as autoridades fecharam as fronteiras para evitar o risco de contaminação da doença.
O brasileiro também elogia a comunicação do governo chinês, que considera transparente. “Um representante do governo veio à nossa cidade, e o próprio prefeito fez pronunciamentos na TV, ontem e hoje, respondendo perguntas difíceis dos jornalistas”, diz. “O governo é o principal interessado que a situação se resolva.”
Nesta segunda-feira 27, o prefeito de Wuhan, assumiu parte da responsabilidade pela propagação da doença e ofereceu sua renúncia. Em entrevista à televisão estatal chinesa, Zhou Xianwang afirmou que a resposta de sua administração ao surto “não foi boa o suficiente”. O prefeito também admitiu que a divulgação de informações pelas autoridades da cidade foi “insatisfatória”. Zhou ainda confirmou que pelo menos 5 milhões de pessoas deixaram a cidade antes de o governo decretar o isolamento, o que pode ter contribuído para a disseminação do vírus pelo país.