Brasil tem 183 desaparecidos por dia e 30% são adolescentes, diz estudo
Levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública analisou mais de 300 mil registros das polícias civis entre 2019 e 2021
Uma média de 183 pessoas desaparecem todos os dias no país, aponta o Mapa dos Desaparecidos no Brasil, lançado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) nesta segunda-feira, 22. Dos mais de 300 mil registros de polícias civis de todo o território, feitos entre 2019 e 2021, cerca de 30% são adolescentes – entre 12 e 17 anos de idade.
Os homens representam 62,8% dos desaparecidos, e mulheres 37,2%. Negros são a maioria dos desaparecidos: 54,3%, mas só são 45,1% do total de pessoas localizadas. Para o FBSP, o estudo ajuda a “compor o retrato de um fenômeno recorrente, que não recebe a devida atenção das autoridades”.
Do total de ocorrências, 112.246 pessoas foram localizadas no período do levantamento. “O Estado tem o dever de procurar pelos desaparecidos e os familiares têm direito à verdade e, se for o caso, ao luto”, afirma Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do Fórum.
Ele alerta ao fato de que o desaparecimento em si não configura crime e que, portanto, seu registro poucas vezes dá início a um inquérito policial. “Esse fenômeno pode estar associado a fatores como maus-tratos, abuso sexual, trabalho escravo”, comenta, ressaltando a importância de levar as diligências de pessoas desaparecidas com mais afinco.
Proporcionalmente mais atingidos, adolescentes não tem seus casos tão priorizados pelas polícias, devido à percepção dos agentes de que esses episódios se tratam de “problemas de família”, aponta o levantamento. Para se ter uma ideia, a taxa média de desaparecidos por grupo de 100 mil pessoas é de 29,5, contudo, o número de adolescentes chega a 84,5.
Problema ainda tateado pelas políticas de Segurança Pública, casos de desaparecimento apresentaram uma redução de 22,3% de 2019 para 2021, com queda em todas as faixas etárias, com exceção do número de desaparecidos entre 40 e 49 anos, que cresceu 2,6%.
O crescimento nessa camada da população pode estar associado à perda de emprego e renda na pandemia de COVID-19. “Adultos atingidos pelo desemprego e sem perspectivas de reinserção no mercado de trabalho podem ter se somado às estatísticas dos desaparecimentos voluntários” afirma Talita Nascimento, autora do estudo.