No dia 17 de março, o Brasil registrava a primeira morte por coronavírus, um homem de 62 anos de idade que faleceu em São Paulo. Naquele momento, o presidente Jair Bolsonaro dava mais uma de suas declarações polêmicas: “A vida continua, não tem que ter histeria”. Antes mesmo da primeira morte, ele já havia dito que “outras gripes mataram mais que essa”.
A doença começava a matar mais gente, mas Bolsonaro nunca se rendeu aos números. No dia 20 de março, quando o coronavírus já tinha matado 11 pessoas no Brasil, o mandatário declarou: “Depois da facada, não vai ser uma gripezinha que vai me derrubar não”.
Foi assim também no dia 24 de março, quando o país registrava 34 mortes. “Raros são os casos fatais, de pessoas sãs, com menos de 40 anos de idade”, disse Bolsonaro. O que não podia ficar pior, ficou. Quando 46 vidas foram ceifadas, dois dias depois, ele soltou: “O brasileiro tem que ser estudado. Ele não pega nada. Você vê o cara pulando em esgoto ali, ele sai, mergulha e não acontece nada com ele” — declaração que fez o presidente brasileiro se tornar alvo de humoristas até em Portugal.
Ao mirar seu arsenal para os governadores, que impuseram um isolamento social para tentar conter a doença, Bolsonaro disse que não estava “acreditando nesse número”. Sem provas, afirmou que “um estado aí” havia orientado por decreto que qualquer morte sem causa concreta deveria ser taxada como coronavírus, alfinetada ao governador de São Paulo, João Doria.
Somente no dia 31 de março, em pronunciamento na TV, é que o presidente demonstrou certa preocupação com a doença, mas, ao mesmo tempo, sem tomar nenhum cuidado com a proteção dele e das pessoas que o rodeiam. “Agora estamos diante do maior desafio da nossa geração”, declarou. Quanto mais aumentava o número de mortos, pior ficavam suas declarações. No dia 20 de abril, quando o país registrava mais de 2.500 mortos, Bolsonaro soltou: “Ô, cara. Quem fala de (mortes)… eu não sou coveiro, tá?”.
A pior de todas as declarações (até o momento) foi a do dia 28 de abril, quando o número de mortos ultrapassou os 5.000. “E daí? Lamento. Quer que eu faço o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre.”
Nem mesmo neste domingo, 3, quando o coronavírus já contaminou 101.147 brasileiros, com um saldo de mais de 7.000 mortes, o presidente parece ter se rendido à letalidade do vírus. Ele desceu a rampa do Palácio do Planalto sem máscara, rodeado de apoiadores, para saudar manifestantes que fizeram uma carreata em Brasília a seu favor e contra o Supremo Tribunal Federal, o ex-ministro Sergio Moro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
A que ponto o país precisa chegar para que o presidente Jair Bolsonaro de fato entenda e assuma para seus seguidores o perigo dessa pandemia?