Capelão: o homem por trás do bar que viralizou por burlar lei
O Bar do Capelão é conhecido pelo tratamento que o dono dá aos frequentadores, apelidando-os carinhosamente de 'vermes', 'insetos' ou 'animais de teta'
Um dos amores do brasileiro é o bar – e variedade é o que não falta. Entre essa vasta lista de opções está o Bar do Capelão, que chamou atenção nos últimos dias após o dono, Luizinho Capelão, encontrar um jeitinho para não fechar as portas às 2h da madrugada, uma exigência da Prefeitura.
Relatos e mais relatos pipocaram nas redes sociais sobre o bar, que fica em Viçosa, a aproximadamente 230 quilômetros da capital mineira Belo Horizonte. Indignado com a lei, Capelão colocou todos os fregueses para fora às 01h59, mas reabriu o estabelecimento às 2h05. A prática, afirma ele, é antiga. “Fiz isso em 2011, não sei o motivo de ter viralizado agora. Alguém que frequenta o local deve ter tirado do fundo do baú e compartilhado, então se espalhou”, afirma o empresário mineiro ao #VirouViral.
A brincadeira deu mais um empurrãozinho para a fama do local – e para o próprio dono. O Bar do Capelão, conhecido pelo tratamento que Luizinho dá aos frequentadores (apelidando-os carinhosamente de “vermes”, “insetos” ou “animais de teta”), tem quase 95 mil fãs no Facebook.
Aliás, quem toma conta das redes sociais de Capelão é um amigo, Gabriel Miranda. “Ele trabalha como assessor fora daqui, mas cuida do Facebook e das redes sociais do bar. Como era meu amigo e conhecia meu jeito, viu a oportunidade de atrair mais pessoas para o estabelecimento pelas redes. Para isso, ele usa a minha linguagem, os xingamentos. Eu mando fotos para ele das coisas que acontecem aqui no bar e ele compartilha com o meu jeito”, diz o mineiro.
O resultado dos “insultos” foi imediato: a internet elegeu o Bar do Capelão como o melhor de todos (pelo menos no Facebook). A publicação em que o empresário explica a origem da “zoação” com seus clientes, por exemplo, tem mais de 4,2 mil reações.
“Minha fala embolada, incompreensível devido à língua plesa, digo, presa era motivo de chacota entre os colegas. Todo mundo ria da minha cara e me colocava os apelidos mais jocosos. (…) Depois de trabalhar como engraxate, servente de pedreiro e ambulante, abri o bar e passei a zoar meus fregueses. Era minha vez de me vingar da sociedade. Se antes os outros riam de mim, agora sou eu que rio dos outros. O Bar do Capelão não é para os fracos. Então, seus insetos, esqueçam os manuais de Administração e ignorem as regras de etiqueta. Neste álbum, vocês aprenderão um novo jeito de gerir um empreendimento e ganhar dinheiro ridicularizando os outros. Compartilhem e levem a zoeira a milhares de famílias brasileiras”, diz Luizinho na publicação.
Um bar para os fortes
Realmente, o Bar do Capelão é para os que aceitam o jeitão do dono. Até porque, como ele mesmo diz, em seu bar, as regras são ditadas por ele. Entre os frequentadores, formados em grande maioria por universitários e torcedores do Atlético Mineiro (e se é cruzeirense, não tem coragem de entrar usando a camisa), está Carolina Dini, 30 anos, advogada. Ela nasceu em Viçosa e viveu na cidade até se formar em Direito e não se lembra de quando foi a primeira vez que foi ao Bar do Capelão, mas a fama de excêntrico do dono já corria há muito tempo na cidade. Mesmo morando hoje em Belo Horizonte, sempre que volta a sua terra natal faz questão de ir ao local.
Embora a bebida mais comum a ser pedida seja a cerveja, vale cuidado ao pedir uma Coca-Cola. Quando pedem, Capelão lança o litrão da bebida, confiando que o cliente desavisado seja capaz de pegar. É a cena mais viva na memória de Carolina. “Uma amiga pediu um refrigerante e três copos. Ele jogou os copos lagoinha [copo americano em mineirês] lá do balcão e ficou bravo quando dois deles caíram no chão. No fim, mandou junto da conta o valor dos copos quebrados. Minha amiga, rindo, sequer contestou, sabe que ele é assim, portanto só frequenta o bar quem gosta da figura.”
Capelão também gosta de alardear suas proezas de comerciante: “Nesse mesmo dia, quando pedi batata frita, ele zombou e disse: ‘Pago uma mixaria no quilo da batata, estou lucrando mais de 500%, sua bocó!'”. Essa maneira “sincerona” de tratar seus custos também é um dos motivos de fama do Bar do Capelão. Nesta publicação, ele fala sobre as “formas de explorar trouxa” do seu estabelecimento:
Carolina ressalta que não é à toa que os clientes convivem com suas excentricidades. “Fica parecendo que quem frequenta é maluco, né? Mas é tudo tão barato que os copos saem por conta”, ri. “As pessoas riem da sinceridade do Capelão e levam tudo na brincadeira. Tanto que ele é homenageado nas formaturas e considerado um ícone da cidade”, diz.
Segunda casa
E não é só Carolina que gosta do excêntrico Capelão. De acordo com ele, mesmo com os insultos, o que faz todos voltarem ao seu bar é o sentimento de acolhimento. “Como aqui é uma cidade universitária, existem estudantes que saem de casa com 15 ou 16 anos e sentem saudades. A felicidade deles é poder chegar aqui no bar, mudar a música, pegar a própria cerveja. Depois de uma semana intensa de trabalho e estudos, os clientes não querem garçom de cara feia”, diz o empresário.
Mas…será que todos levam na brincadeira os “apelidos” dados por Capelão? A resposta é não. “Tem muita gente que fica ofendida e vai embora. Mas a maioria gosta e vem aqui justamente esperando que eu fale mal, pois é uma tradição. O pessoal vem no meu bar pra ser mal atendido”, afirma.
Horário de funcionamento
Vale mencionar que a lei vigente, nº 2457, datada de 2015, estabelece que o horário de funcionamento de estabelecimentos como bares e restaurantes fique entre 7h e 2h da manhã. De acordo com o filho do empresário, Marcos Paulo, a lei antiga foi “modificada” após os feitos de Capelão.
Segundo o doutor Percival Maricato, advogado, fundador e diretor jurídico da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), uma lei que não estabelece o horário específico de funcionamento para um bar é falha. “Se a lei não especifica o período em que o bar deve permanecer fechado, o dono do estabelecimento poderia fazer o que este empresário fez. No entanto, isto seria uma forma de burlar a lei, já que lhe falta a compreensão do objetivo desta lei – que é manter o silêncio da região”, afirma o doutor.
Segundo Maricato, mesmo que não exista uma norma para todos os municípios do país, os bares costumam ser proibidos de funcionar entre 1h e 5h da manhã.
(Com colaboração de Luísa Costa)