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Ronaldinho: o adeus melancólico de um gênio imperfeito

Ele poderia ter sido o Pelé de sua época, mas preferiu ser Garrincha – a alegria

Por Luiz Felipe Castro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 1 mar 2018, 15h08 - Publicado em 17 jan 2018, 10h42

De todos os incontáveis momentos em que Ronaldinho Gaúcho arrebatou a torcida com seu talento, dois são meus preferidos: em 2005, no campo do Chelsea, com um uniforme bege do Barcelona que mais parecia um pijama, ele dançou na frente dos zagueiros e surpreendeu o goleiro Cech com um chute de bico, certeiro, num espaço que não parecia existir, como se estivesse numa quadra de futsal em Porto Alegre na infância. E um lance que não resultou em nada além de um grito de êxtase de todo o Rio de Janeiro: num Fla-Flu, uma bola rebate e sobe cerca de 30 metros; o 10 do Flamengo, então, mesmo apertado pela marcação de Conca, firma o pé direito e coloca a bola para dormir com uma elegância assustadora, mágica, quase um truque circense. Porque Ronaldinho foi isso: um excepcional artista, por vezes disfarçado de jogador de futebol.

Nesta segunda-feira, chegou ao fim oficialmente, e com alguns anos de atraso, a sua carreira profissional. O anúncio foi feito de forma melancólica, pelo irmão Assis, figura que tanto ajudou o irmão mais novo após a morte do pai – e tanto o atrapalhou no fim de carreira. Ronaldinho, que fez seu último jogo oficial em 2015, pelo Fluminense, merecia uma aposentadoria mais digna. E terá, com jogos festivos e homenagens, ao longo do ano, ao redor do mundo. Especialmente em Barcelona.

Apesar de todos os feitos aparentemente inalcançáveis de Lionel Messi no Camp Nou, há catalães que consideram Ronaldinho o jogador mais importante da história do Barça. Não por seu número de gols, assistências e títulos, modestos se comparados ao de seu pupilo argentino. Mas pelo que sua chegada representou para o clube, então afundado numa crise de identidade, num Camp Nou cinzento e triste. Logo na estreia, contra o Sevilla, o brasileiro marcou um dos gols mais representativos de sua carreira: habilidade, irresponsabilidade genial, coragem, força e uma finalização perfeita.

O que se viu nos anos seguintes foi um sonho para o torcedor azul e grená. Cada domingo era garantia de espetáculo, qualquer que fosse o resultado. Chapéus, canetas, elásticos, um sorriso torto que não saía do rosto – e troféus. Há quem tenha visto Pelé, Maradona e companhia e diga que nunca viu nada semelhante aos primeiros anos de Ronaldinho no Barcelona. Pena que seu auge tenha durado tão pouco. E sorte para os catalães que R10 tenha passado o bastão a um jovem de Rosário. Bem mais consistente; tão ou mais genial mas menos alegre e carismático.

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Na seleção brasileira, Ronaldinho ficou devendo. Os primeiros anos foram promissores – como esquecer o chapéu e golaço contra a Venezuela, na Copa América de 1999, com Galvão Bueno berrando: “Olha o que ele fez…”. Naquele dia, Ronaldinho I, o 9, virou Ronaldo, o Fenômeno. E o jovem gênio do Grêmio, se apresentou ao mundo. No penta em 2002, foi fundamental contra a Inglaterra com uma assistência linda e um gol maluco (algo me diz que, um dia, ele dirá que foi sem querer). Nem todos se lembram, mas o então camisa 11 foi expulso por uma solada nesse jogo contra a Inglaterra. Não importou, o Brasil foi campeão. Ele, aliás, é o único atleta no planeta a ter conquistado a Liga dos Campeões, a Libertadores, a Bola de Ouro e a Copa do Mundo. Mas seu legado com a camisa amarela poderia ter sido bem maior – poderia, tranquilamente, ter liderado a equipe nas Copas de 2010 e 2014, por exemplo.

Mas não importa que Ronaldinho tenha falhado em muitos momentos decisivos. Que tenha magoado o time do coração – no museu da Arena do Grêmio não há uma única referência ao maior craque que o clube campeão da América produziu. Que tenha sido uma sombra de si mesmo nos últimos anos de carreira. Que tenha se rendido às tentações, se dedicado mais ao pagode e a ao “funknejo” e exibido muito pouco de suas “bruxarias”, apenas em partidas festivas pelo mundo, nos últimos anos. Os malabarismos sempre estiveram lá, mas o futebol de alto nível não se vê desde 2013, o ano mágico do Atlético MG, pelo qual Ronaldinho deixou sua marca para sempre, ainda que tenha sido irregular na maior parte do tempo. Pois ele era assim mesmo, imperfeito, um gênio torto. Como Garrincha, a alegria do povo, o sorriso dos torcedores.

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