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Thomas Traumann

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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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Como Bolsonaro montou sua própria frente ampla

Enquanto opositores brigam, o presidente alcança novos eleitores

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jan 2021, 19h11 - Publicado em 4 jan 2021, 13h48

As oposições têm falado sobre a formação de uma “Frente Ampla”, uma espécie de Arca de Noé onde caberiam todos os animais que rejeitam Jair Bolsonaro. O problema é que a “Frente Ampla” é daquelas expressões bonitas de falar e que na vida real funcionam como no ditado “farinha pouca, o meu pirão primeiro”: só alimenta quem chega antes ao tacho. Enquanto se estapeiam pela comida insuficiente, as oposições poderiam aprender a montar uma “Frente Ampla” com o político que nos últimos dois anos alargou seus laços para além de seus apoiadores originais. Sim, ele mesmo: Jair Bolsonaro.

Eleito por uma pororoca de interesses cujo denominador comum era a ojeriza ao PT, Bolsonaro reforçou os laços com alguns grupos fundamentais para sua vitória em 2018. Ele consolidou a inédita unidade de apoio das várias denominações pentecostais, tornou mais robusto o alinhamento com o Exército e as Polícias Militares e ganhou ainda mais popularidade junto ao agro com o desmonte do Ibama e o projeto de regularização de terras griladas na Amazônia. O mercado financeiro que se enamorou de Bolsonaro sob o pretexto de que estava votando em Paulo Guedes, já descobriu que o presidente é um despreparado, mas não vai abandonar o barco enquanto tiver bônus no fim-do-ano. Em 2020, com todos os solavancos, o bônus foi generoso.

Ao mesmo tempo, Bolsonaro estendeu seus domínios. Aos miseráveis, ofereceu o Auxílio Emergencial – de longe o maior feito do seu governo. Aos políticos do Centrão, o presidente soltou emendas parlamentares como nenhum antecessor. Nêmesis dos governos petistas, o Ministério Público foi enquadrado pelo novo procurador geral, enquanto a Polícia Federal passou a enxergar erros apenas nos governos adversários.

Grupos de mídia em dificuldade até 2018 ganharam solvência com fluxos de publicidade tanto privado quanto estatal. Governos estaduais e prefeituras em dificuldades receberam alívio fiscal em 2020 e promessas de tratamento diferenciado em 2021. Ameaças de campanha como o facão nas verbas do Sesi/Senai, o fim de subsídios empresariais e explosão do monopólio bancário foram engavetadas junto com a aproximação com as Federações das Indústrias de São Paulo e Rio. Outra promessa de 2018, a reforma tributária, virou um espantalho. Agora, o governo Bolsonaro acha que angaria todo o setor de varejo ao impedir que a proposta de reforma tributária ande no Congresso.

É lógico que esses novos tripulantes da nau bolsonarista não vieram sem um preço. O mais chamativo de todos foi defenestrar o ex-juiz Sergio Moro do Ministério da Justiça, perdendo assim um grupo razoável de eleitores que cravaram 17 na urna acreditando que estavam reforçando a Operação Lava Jato. Parte da mídia condescendente na cobertura da campanha de 2018 também se afastou depois de virar alvo da fúria da máquina de ódio bolsonarista. Temerosos de terem de arcar com os custos da diplomacia doidivana, exportadores passaram a criticar o governo. Parte dos liberais antipetistas se assustou com a tentativa de autogolpe bolsonarista no meio do ano e hoje busca uma alternativa dentro das regras democráticas.

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Feitas as contas, Bolsonaro ganhou mais que perdeu. Se a eleição fosse neste ano, o campo bolsonarista seria favorito.

É possível que Bolsonaro perca parte deste apoio com o fim do Auxílio Emergencial e com a administração criminosa no combate à Covid-19. O clima de barata voa na vacinação, o aumento crescente nos indicadores de desemprego e a inflação de alimentos no primeiro semestre irão afetar a popularidade do governo. Mas como escrevi aqui, Bolsonaro não foi eleito para enfrentar os problemas da economia ou salvar vidas do coronavírus. Ele foi eleito para “acabar com tudo isso daí”, o desmonte do aparato político e social que sustenta o Estado desde a Constituição de 1988. E isso ele está entregando.

O que as oposições podem aprender com Bolsonaro é que falar com quem não votou em você não tira pedaço. É irônico, mas Bolsonaro que perdeu em todo o Nordeste, tem hoje mais acesso _ via políticos do Centrão _ aos moradores de uma pequena cidade do Piauí do que um candidato de esquerda como Fernando Haddad ou Guilherme Boulos na Savassi, em Belo Horizonte. Assim, como é mais fácil Bolsonaro cruzar aplaudido o calçadão da rua XV de Novembro, em Curitiba, do que João Doria sequer ser notado. Uma Frente Ampla que representa aqueles que já não votam em Bolsonaro não nem frente, nem ampla.

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