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Por Sérgio Rodrigues
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.
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O que o saber tem a ver com o sabor?

“De repente, no artigo do sommelier lá estava: ‘O tinto australiano sabe a frutas vermelhas e ervas finas’. ‘Sabe’? Leia de novo. ‘Sabe.’ Na culinária a mesma coisa: ‘O branco, intenso, sabe a jasmins e cereja; então cai redondo no cozido português!’. O Aurélio não contempla esse significado do verbo saber. É frescura isso ou […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 05h38 - Publicado em 12 ago 2013, 17h01

“De repente, no artigo do sommelier lá estava: ‘O tinto australiano sabe a frutas vermelhas e ervas finas’. ‘Sabe’? Leia de novo. ‘Sabe.’ Na culinária a mesma coisa: ‘O branco, intenso, sabe a jasmins e cereja; então cai redondo no cozido português!’. O Aurélio não contempla esse significado do verbo saber. É frescura isso ou existe mesmo esse sentido?” (Rui Carlos Vardanega)

A acepção do verbo saber que intrigou Rui (“ter gosto de, lembrar o sabor de”), neste caso sempre acompanhado da preposição a, não tem nada de frescura. Trata-se de um sentido clássico da palavra, com raízes profundas no latim de onde ela veio.

Embora seja mais comum em Portugal do que no Brasil, não é verdade que o Aurélio não registre tal acepção: ela é a de número 15 no Aurélio Século XXI, que traz a seguinte abonação literária: “O licor tinha a mais bela cor de topázio, fina e transparente. E sabia gostosamente a frutos e a doce” (Maria Archer, “Fauno sovina”).

Com tal sentido, saber pode ainda ser intransitivo, significando simplesmente “ter sabor, ser saboroso”: “Esse prato sabe muito bem”.

Segundo a datação do Houaiss, saber com o sentido de conhecer é palavra existente em português desde a primeira infância da língua, no século X, enquanto a acepção que motivou a consulta de Rui estreou entre nós em meados do século XVI – a primeira por via popular, a segunda por via erudita. Curiosamente, no latim o caminho foi o inverso: o palato veio antes do cérebro.

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As primeiras acepções do verbo sapere no dicionário Saraiva são todas ligadas a sabor, ao paladar: o substantivo saporis, aliás, surgiu como derivado de sapere. Em latim o saber propriamente dito, ligado ao intelecto e ao conhecimento, nasceu mais tarde por extensão figurada.

Pode parecer meio maluca a ligação entre o paladar e o intelecto, mas a lógica dessa expansão de sentido é bem semelhante à que liga o gosto (“sabor”) ao gosto (“juízo, discernimento”). Ter um paladar apurado significava ter gostos cultivados – como se diz hoje, “saber das coisas”.

Veja-se por exemplo o caso do adjetivo sapiens (“sábio”), famoso por seu emprego na expressão homo sapiens: sua primeira acepção no Saraiva é “que tem bom paladar, que é conhecedor ou entendedor”. No verbete sapientia (“sapiência, sabedoria”), o elo fica ainda mais claro: “Bom paladar (para conhecer a bondade dos alimentos); aptidão, habilidade, capacidade, instrução; razão, bom senso”.

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