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Em 1990, miseráveis invadiam as grandes cidades do país

Moradores de rua aumentavam em velocidade vertiginosa nas grandes cidades 27 anos atrás

Por Marcos Rogério Lopes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 jul 2020, 20h39 - Publicado em 30 nov 2017, 17h03

A edição desta semana de VEJA traz a terrível constatação de que voltou a crescer o número de miseráveis no país. Se entre 2004 a 2014 subiu o número de brasileiros que saíram da pobreza, graças ao crescimento econômico, à criação de empregos e aos programas assistenciais, de 2015 para cá a realidade é cada vez pior. A questão é um dos problemas crônicos do país. Em 19 de dezembro de 1990, com a capa “Os Miseráveis — Nunca houve tanta gente morando na rua”, a revista mostrou que, 27 anos atrás, também já se conhecia a fundo a desigualdade e mesmo assim quase nada foi feito.

A reportagem abria com o drama de uma reintegração de posse em um imóvel de Diadema, na Grande São Paulo, que terminou com a morte de dois sem-teto. E seguia assim o texto:

“Bem-vindos, brasileiros dos anos 90, a um dos espetáculos mais em voga no repertório atual das descamisadas e descamisados deste país. Na semana passada, ele esteve em cartaz em Diadema, com cenas explícitas de violência, mas pode ser presenciado todos os dias, em qualquer horário e sem pancadaria, em qualquer grande cidade do Brasil. Pior ainda, não é mais preciso, para vê-lo, passar perto de uma favela, de um cortiço ou de uma área invadida. Basta olhar para as calçadas, debaixo dos viadutos ou de outros lugares mais ou menos públicos, e lá estarão seus protagonistas — gente que mora na rua, em número cada vez maior, miserável demais para viver numa favela, e que vai deixando de ser vista apenas como um incômodo estético para transformar-se numa das mais terríveis condenações do ‘apartheid’ social estabelecido no Brasil.

(…) O real problema que o Brasil tem para discutir, entretanto, chama-se miséria e envolve 60 milhões de cidadãos que não têm casa, nem escola para colocar os filhos, nem esperança. É uma população maior que a de países como a França e a Coreia do Sul, e equivale a duas vezes a da Argentina. É esse o problema, é dele que derivam episódios como o de Diadema e é por sua causa que há cada vez mais gente morando na rua — talvez e nenhuma outra época, na verdade, a miséria tenha se tornado tão maciçamente visível no cotidiano do país como agora.”

A matéria seguinte, na mesma edição de 1990, Cidadãos da Rua, traz inúmeros perfis de brasileiros abaixo da linha da pobreza nas grandes cidades e a afirmação de que, até então, nunca o problema havia sido tão nítido. “Nunca, nos 500 anos de história do Brasil, a miséria foi um dado tão chocante e tão visível a olho nu. No inverno de 1989, a prefeitura de Porto Alegre recolheu a seus albergues 914 pessoas que perambulavam pelas ruas da cidade. Este ano, foram 3 100. Em 1984, a Fundação Leão XIII, encarregada de auxiliar a população carente que circula pelo Rio de Janeiro, atendeu 3 800 cidadãos — esse número foi de 49 000 até outubro de 1990. Calcula-se que o número de pessoas que residem nas ruas de São Paulo tenha passado e um ano de 60 000 para 100 000 e, no Recife, essa cifra já chega a 120 000.”

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Em outro trecho da reportagem, a constatação desumana de que “o Brasil, ao longo das últimas décadas, só tem conseguido crescer produzindo um número cada vez maior de miseráveis”. Vale ler a matéria na íntegra.

Capa de 2002 alertava que a pobreza extrema de 23 milhões de brasileiros não podia ser ignorada
Capa de 2002 alertava que a pobreza extrema de “23 milhões de brasileiros não podia ser ignorada” (Reprodução/VEJA)

Em 2002, o tema voltou a ser destaque na capa da edição de VEJA de 23 de janeiro. Na matéria Paradoxo da Miséria, a informação “inexplicável” de que 23 milhões de brasileiros se encontravam na categoria de pobreza extrema.

Leia parte do texto de 2002:

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“Miséria é palavra de significado impreciso, como de resto a maior parte dos termos que se referem à camada menos favorecida da sociedade. O que exatamente quer dizer “pobreza” ou “indigência”? Como identificar um pobre? Como ter certeza de que existem 14,5% de miseráveis, e não 10% ou 20%? Não haveria subjetividade demais nessas estatísticas? Em geral, cada um percebe a miséria por sua experiência pessoal, como definiu a americana Mollie Orshansky, uma das maiores especialistas no assunto: “A pobreza, tal qual a beleza, está nos olhos de quem a vê”. Para efeito estatístico, no entanto, os estudiosos chegaram a uma definição quase matemática sobre o que são miséria e pobreza. Conseguiram estabelecer duas grandes linhas. Uma delas é a linha de pobreza, abaixo da qual estão as pessoas cuja renda não é suficiente para cobrir os custos mínimos de manutenção da vida humana: alimentação, moradia, transporte e vestuário. Isso num cenário em que educação e saúde são fornecidas de graça pelo governo.

Outra é a linha de miséria (ou de indigência), que determina quem não consegue ganhar o bastante para garantir aquela que é a mais básica das necessidades: a alimentação. No caso brasileiro, há 53 milhões de pessoas abaixo da linha de pobreza. Destas, 30 milhões vivem entre a linha de pobreza e acima da linha de miséria. Cerca de 23 milhões estariam na situação que se define como indigência ou miséria.

Reforçando, para evitar confusão: a pobreza no Brasil é formada por dois grandes grupos. Há 30 milhões de pessoas vivendo com extrema dificuldade, donas de uma renda mensal per capita inferior a 80 reais. E há mais 23 milhões que vivem ainda em pior situação, sobrevivendo de maneira primitiva. Não ganham dinheiro bastante para comprar todos os dias alimentos em quantidade mínima necessária à manutenção saudável de uma vida produtiva — ou seja, algo em torno de 2.000 calorias. Isso equivale a uma dieta diária que inclui um pão e meio, cinco colheres de arroz, meia concha de feijão, um copo de leite, um bife de 100 gramas, meio ovo e mais três colheres de açúcar, óleo de soja, farinha de trigo, farinha de mandioca e margarina. Os miseráveis não têm acesso a essa cesta biológica básica. Esse é o chamado flagelo social. Não se sabe ainda quais serão os candidatos a presidente, mas já se sabe qual será o maior desafio do novo governo: reduzir esse contingente de padrão africano.”

Confira o restante da reportagem clicando aqui.

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